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Crítica

Teenage Fanclub

: "Endless Arcade"

Ano: 2021

Selo: Merge

Gênero: Rock Alternativo, Power Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Dinosaur Jr., Ride e Superchunk

Ouça: Home e Everything Is Falling Apart

7.5
7.5

Teenage Fanclub: “Endless Arcade”

Ano: 2021

Selo: Merge

Gênero: Rock Alternativo, Power Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Dinosaur Jr., Ride e Superchunk

Ouça: Home e Everything Is Falling Apart

/ Por: Cleber Facchi 18/05/2021

Originalmente previsto para outubro do último ano, porém, postergado por conta da pandemia de Covid-19, Endless Arcade (2021, Merge), 11º álbum de estúdio do Teenage Fanclub, marca um importante ponto de transformação na carreira do quinteto escocês. Primeiro registro de inéditas da banda desde a saída do baixista, cantor e co-fundador Gerard Love, o disco que conta com produção dividida entre os próprios membros concentra o que há de melhor na obra do grupo que hoje divide suas funções entre os músicos Norman Blake (vozes, guitarras), Raymond McGinley (vozes, guitarras), Francis Macdonald (bateria, vocais), Dave McGowan (baixo, vocais) e Euros Childs (teclados). Um delicado exercício de entrega sentimental, domínio e refinamento criativo de cada colaborador.

E isso fica bastante evidente na introdutória Home. São pouco mais de sete minutos em que a banda de Bellshill se revela ao público em uma medida própria de tempo, detalhando camadas de guitarras e harmonias de vozes que não apenas apontam para os cultuados Bandwagonesque (1991), Grand Prix (1995) e Songs from Northern Britain (1997), como parecem dialogar com uma geração de novos artistas que sempre beberam das canções do Teenage Fanclub, como Real Estate e The War On Drugs. Um misto de passado e presente que tinge com nostalgia e fino toque de renovação parte expressiva do material, conceito que se reflete logo nos primeiros minutos da obra, mas que acaba orientando a experiência do ouvinte até a composição de encerramento do álbum, a delicada Silent Song.

São vozes sobrepostas, batidas cuidadosamente encaixadas e distorções sempre controladas, tratamento bastante evidente durante a produção do antecessor Here (2016), mas que ganha ainda mais destaque ao longo da obra. Não por acaso, a banda escocesa fez de Everything Is Falling Apart a primeira faixa do disco a ser apresentada ao público. Lançada há mais de dois anos, a canção funciona como uma síntese conceitual de tudo aquilo que o quinteto busca desenvolver até o fechamento do registro. “Relaxe, encontre o amor / Segure a mão de um amigo / Mas ei, divirta-se / Por que tudo vai acabar“, canta McGinley em um misto de pessimismo e sobriedade, lirismo que ganha ainda mais destaque na base instrumental que parece dançar pelo tempo, colidindo ideias e referências.

Exemplo disso acontece em Come With Me, sexta faixa do disco. Longe de qualquer traço de euforia, a canção se revela aos poucos, sem pressa. São coros de vozes no melhor estilo The Beach Boys e guitarras que lembram os momentos de maior calmaria do Orange Juice, porém, sempre preservando a identidade do grupo escocês. A própria faixa-título do álbum parece utilizar de uma abordagem bastante característica, como fragmentos que se revelam ao público em uma medida própria de tempo, cercando e confortando o ouvinte. Mesmo quando utiliza de uma abordagem um pouco mais urgente, como na montagem de I’m More Inclined, a banda mantém firme o completo refinamento dos arranjos, melodias e vozes, como um precioso exercício instrumental e poético.

A principal diferença em relação aos antigos trabalhos da banda, sempre marcados pelo cruzamento entre as guitarras de Blake e McGinley, está na presença destacada de Childs e seus sintetizadores. Convidado a ocupar o espaço que antes pertencia a McGowan, o tecladista brilha durante toda a execução da obra. São melodias nostálgicas que apontam de maneira quase caricatural para o pop dos anos 1960, direcionamento bastante evidente em músicas como The Sun Won’t Shine On Me, mas que ganha ainda mais destaque em outras canções ao longo do registro, como em Living with You e na própria faixa-título do disco. É como se o grupo resgatasse tudo aquilo que foi apresentado no álbum anterior, porém, partindo de uma estrutura ainda mais detalhista.

Claro que isso não faz de Endless Arcade uma obra minimamente transgressora dentro da discografia do quinteto escocês. Imerso na habitual zona de conforto vivida pelo Teenage Fanclub desde o final dos anos 1990, o trabalho apenas potencializa tudo aquilo que o grupo de Bellshill tem produzido desde os primeiros registros autorais. São canções adornadas pelo uso de melodias aprazíveis, coros de vozes e incontáveis camadas instrumentais, reservando aos versos um componente de maior destaque e mudança pontual. Composições ainda mergulhadas em conflitos sentimentais e temas existencialistas, porém, voltadas ao atual momento de cada realizador, hoje consumidos pelo peso da passagem do tempo e memórias extraídas de diferentes épocas e experiências.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.