Image
Crítica

Clarice Falcão

: "Tem Conserto"

Ano: 2019

Selo: Chevalier de Pas

Gênero: Pop, Eletrônica, Dance

Para quem gosta de: Letrux e Mahmundi

Ouça: Dia D, CDJ e Mal Pra Saúde

7.6
7.6

“Tem Conserto”, Clarice Falcão

Ano: 2019

Selo: Chevalier de Pas

Gênero: Pop, Eletrônica, Dance

Para quem gosta de: Letrux e Mahmundi

Ouça: Dia D, CDJ e Mal Pra Saúde

/ Por: Cleber Facchi 18/06/2019

Em um intervalo de poucos anos, Clarice Falcão foi do pop agridoce que embala as canções de Monomania (2013), primeiro álbum de estúdio em carreira solo, para o refinanciamento político detalhado em Problema Meu (2016), obra que revelou ao público músicas como Eu Escolhi Você e Vagabunda. Um lento processo de amadurecimento criativo e profunda entrega sentimental, estrutura que alcança novo e bem-sucedido resultado em Tem Conserto (2019, Chevalier de Pas), terceiro registro de inéditas na carreira da artista pernambucana e princípio de um novo direcionamento estético.

Com produção de Lucas de Paiva (Mahmundi, Opala) e mixagem de Savio de Queiroz (Teto Preto, Ceticências), o trabalho de nove faixas encontra no uso de temas eletrônicos, sintetizadores e ambientações dançantes a base para a poesia tragicômica de Falcão. “Já quebrei a cara na sua porta / Desde então, visivelmente, a minha cara nunca foi a mesma … Cola um aviso do Ministério / Na sua testa, feito cigarro / Advertindo pra geral: Você faz mal pra saúde“, canta em Mal Pra Saúde, música que se aprofunda na temática de um relacionamento abusivo, porém, preservando a leveza que orienta a experiência do ouvinte até o último instante da obra.

De fato, é quando investe na produção de um material deliciosamente cômico, como em Dia D, que Tem Conserto encanta e cresce. “Esperei semana toda / Hoje vai ter que rolar / Não vai ter escapatória / Meu amor, não vai prestar / Hoje eu vou dar“, canta em meio a versos semi-declamados enquanto sintetizadores, batidas e ruídos eletrônicos se revelam ao poucos, lembrando a atmosfera detalhada no ótimo Letrux Em Noite De Climão (2017). O mesmo direcionamento bem-humorado se faz evidente em CDJ, música que utiliza do jogo de palavras para grudar na cabeça do ouvinte. “Quando a festa esvaziar / E essa noite tiver fim / Eu queria que você tocasse uma só pra mim“, provoca.

Dos poucos momentos em que perverte essa estrutura, Falcão utiliza do disco para se aprofundar em dilemas existencialistas e instantes de doce melancolia. “Minha cabeça não é / Flor que se cheire, não é / Minha parceira, não faz / Nada que eu peço / Minha cabeça repete / As mesmas coisas, repete / As mesmas coisas, até / Não ter mais coisa“, canta, em Minha Cabeça, delicada síntese da confusão mental que orienta parte expressiva da obra. São versos intimistas que sutilmente ampliam tudo aquilo que a cantora vem experimentando desde o último ano, durante o lançamento da econômica Bad Trip.

Em Só + 6, oitava composição do disco, uma letra que alterna entre a melancolia e o evidente desejo de libertação do eu lírico. “Eu vou tomar mais uma só e vou / Eu vou dançar mais uma só e vou / Vou esperar nascer o sol e vou / Eu só não quero ficar só e vou“, canta. São pouco menos de quatro minutos em que Falcão vai de um extremo a outro da obra, reforçando a poesia delirante que se espalha até o último verso do trabalho. O mesmo direcionamento incerto acaba se refletindo em Horizontalmente, canção que parte de um poema contemplativo para mergulhar em um território puramente dançante.

Naturalmente limitado pela própria extensão vocal da cantora, problema evidente desde a estreia com Monomania, Tem Conserto encontra na força dos sentimentos e experiências compartilhadas pela própria artista um elemento de imediata comunicação com o ouvinte. São versos consumidos pela melancolia da vida adulta e o evidente desejo em se reorganizar emocionalmente. Composições que mesmo consumidas pela dor e poesia triste de Falcão, invariavelmente convidam o ouvinte a dançar, estrutura que se reflete até o último instante do trabalho, na derradeira faixa-título.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.