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Crítica

terraplana

: "Olhar Pra Trás"

Ano: 2023

Selo: Balaclava Records

Gênero: Dream Pop, Shoegaze

Para quem gosta de: Adorável Clichê e Terno Rei

Ouça: Conversas, Memórias e Cais

8.4
8.4

terraplana: “Olhar Pra Trás”

Ano: 2023

Selo: Balaclava Records

Gênero: Dream Pop, Shoegaze

Para quem gosta de: Adorável Clichê e Terno Rei

Ouça: Conversas, Memórias e Cais

/ Por: Cleber Facchi 03/03/2023

Passado o quase intransponível bloco de ruídos que se ergue nos minutos iniciais, Olhar Pra Trás (2023, Balaclava Records), estreia do grupo curitibano terraplana, abre passagem para um território consumido pela dor, lembranças de um passado recente e momentos de maior vulnerabilidade emocional. “Não sei o que é real / Sem olhar pra trás“, confessa Stephani Heuczuk (voz, baixo), reforçando o peso da memória que paira sobre o trabalho. É como um doloroso exercício de libertação, mas que a todo momento tropeça nas próprias recordações, direcionamento que se completa pelo som granulado produzido em parceria com Vinícius Lourenço (voz, guitarra), Cassiano Kruchelski (voz, guitarra) e Wendeu Silverio (bateria).

Uma vez imerso nesse cenário de emanações ruidosas que apontam para a obra de veteranos como My Bloody Valentine e Slowdive, cada faixa parece pensada para potencializar a forte carga emocional que consome o disco. Exemplo disso fica ainda mais evidente com a chegada de Conversas, música que se espalha em meio a guitarras sempre carregadas de efeitos e uma combinação equilibrada entre a bateria e a linha de baixo. “Já cansei de esperar / Você aprender com seus erros / Mas sei que se eu tentar mudar / vou me arrepender“, cresce a letra da canção, reforçando o aspecto contemplativo que embala o material.

Embora denso e propositadamente lento, como se cada componente fosse revelado em uma medida própria de tempo, Olhar Pra Trás está longe de parecer um registro arrastado. Sempre que tende ao marasmo, alguma nova composição rompe com essa lógica, garantindo maior fluidez ao material. Terceira faixa do disco, Memórias funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos reforçam o caráter melancólico do álbum (“Nada que eu disser / Vai te fazer voltar“), guitarras e batidas rápidas avançam em uma abordagem dinâmica. É como um respiro leve que antecede a turbulenta Cais.

Incialmente marcada pela economia dos arranjos, a canção aos poucos se converte em um delirante exercício criativo. São guitarras ascendentes, ruídos e ambientações enevoadas, como um complemento aos versos que destacam o que há de mais doloroso no som produzido pela banda. “E sinto a morte aqui / Perto de mim / Sinto você aqui / Perto de mim“, canta Heuczuk. A diferença em relação ao material entregue nos minutos iniciais está na forma como o quarteto parece tensionar a própria obra. Frações poéticas e sentimentais que se espalham em meio estruturas labirínticas, ampliando os limites do trabalho.

Com a chegada de Me Esquecer, logo em sequência, o quarteto mais uma vez acelera e rompe com qualquer traço de conforto, porém, tropeça na letra que ecoa de forma bastante similar ao material entregue nos minutos iniciais. Nada que Você, minutos à frente, não de conta de resolver. Precedida do interlúdio Um Sonho, Um Fim, a composição mais uma vez destaca o lirismo confessional do registro, estreitando lanços com o ouvinte. “Sei que / você / Já se decidiu / Eu vejo / O fim“, reflete em meio a guitarras que ora utilizam de uma abordagem truculenta, ora alcançam um caráter transcendental.

Esse mesmo cruzamento de informações ainda abre passagem para o material entregue na composição de encerramento do álbum, Me Encontrar. Fim da jornada emocional apontada logo nos minutos iniciais de Olhar Pra Trás, a canção reforça o experimentalismo que aflora em momentos estratégicos. Instantes em que o quarteto preserva o aspecto sentimental do restante do trabalho, porém, se permite provar de diferentes texturas e direções criativas que não apenas pontuam o registro de forma inventiva, como sustentam na construção dos versos a busca por novas possibilidades: “eu vou onde posso me encontrar“.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.