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Críticas

Ariana Grande

: "Thank U, Next"

Ano: 2019

Selo: Republic

Gênero: Pop, R&B, Dance

Para quem gosta de: Selena Gomez e Troye Sivan

Ouça: Thank U, Next, Ghostin e Needy

7.6
7.6

Crítica: “Thank U, Next”, Ariana Grande

Ano: 2019

Selo: Republic

Gênero: Pop, R&B, Dance

Para quem gosta de: Selena Gomez e Troye Sivan

Ouça: Thank U, Next, Ghostin e Needy

/ Por: Cleber Facchi 14/02/2019

Mesmo repleto de composições acessíveis, caso de God is a Woman, Breathin e No Tears Left To Cry, uma das principais queixas em relação ao trabalho de Ariana Grande em Sweetener (2017) está na parcial ausência de músicas comercialmente, íntimas do grande público. Dona de sucessos como Into You, Side to Side e Break Free, a cantora e compositora norte-americana parecia investir na produção de um registro menos emergencial, talvez sóbrio, estreitando a relação com o R&B dos anos 1980 e 1990, porém, distante das pistas, como uma fuga declarada do som que vinha desenvolvendo desde o início da carreira.

Sem necessariamente perder a força criativa alcançada no último disco, interessante perceber nas canções de Thank U, Next (2019, Republic), quinto e mais recente álbum de inéditas na carreira de Grande, um parcial regresso ao mesmo pop autoral aprimorado em obras como My Everything (2014) e Dangerous Woman (2016). Entregue ao público pouco menos de um ano após o lançamento Sweetener, o trabalho encontra na honestidade dos versos, conflitos amorosos e pequenas celebrações da artista norte-americana o estímulo para uma seleção de faixas tão radiofônicas, quanto íntimas do material entregue pela cantora há poucos meses.

Síntese dessa transformação ecoa com naturalidade na faixa-título do disco. Sequência ao material entregue em Sweetener, a canção parte de uma madura reflexão sobre os antigos relacionamentos da cantora para se transformar em uma das composições mais preciosas do pop em sua fase atual. “Um me ensinou o amor / Um me ensinou paciência / E um me ensinou a dor / Agora estou tão bem … E, por isso, eu digo / Obrigada, próximo“, reflete enquanto passeia em meio a memórias de um passado ainda recente, dialogando com o ex-noivo Pete Davidson e o rapper Mac Miller (1992 – 2018), com quem viveu um longo (e problemático) romance.

O mesmo refinamento poético acaba se refletindo durante toda a execução da obra. São faixas como Needy, uma dolorosa reflexão sobre os próprios sentimentos e conflitos pessoais (“Ultimamente, eu estive em uma montanha russa / Tentando se apossar das minhas emoções“); a dor que invade os versos de Fake Smile (“Eu não posso fingir outro sorriso / Eu não posso fingir que estou bem“), música em que discute a necessidade de esconder a própria melancolia como figura pública, ou mesmo a poesia triste de Ghostin (“Eu sei que quebro o seu coração quando eu choro“), composição montada a partir de samples da música 2009, do próprio Mac Miller.

Interessante notar que mesmo doloroso na composição dos versos, Thank U, Next está longe de parecer uma obra arrastada, difícil. Da construção das batidas ao jogo cíclico das rimas, cada movimento do disco parece pensado para capturar a atenção do ouvinte sem grandes dificuldades. Exemplo disso está no evidente frescor de músicas como Bloodline e NASA, essa última, inaugurada em meio a versos de Shangela Laquifa Wadley, um dos destaques de RuPaul’s Drag Race, e uma base quente que lembra as canções de Dangerous Woman. Uma coleção de pequenos acertos que se reflete até a faixa de encerramento do disco, a divertida Break Up with Your Girlfriend, I’m Bored.

Embora marcado por instantes de breve desequilíbrio, como na rima pobre de 7 Rings e na esquecível Make Up, Thank U, Next se projeta como uma obra consistente durante toda sua execução, ampliando parte do amadurecimento estético e lírico conquistado pela cantora durante o lançamento de Sweetener. Composições como NASA, Needy, Bloodline e a própria faixa-título do disco em que Grande vai da essência comercial dos primeiros registros à sobriedade dos temas que se conectam diretamente com as experiências de qualquer ouvinte.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.