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Crítica

The Armed

: "Ultrapop"

Ano: 2021

Selo: Sargent House

Gênero: Pós-Hardcore, Noise, Metalcore

Para quem gosta de: Converge e Japandroids

Ouça: All Futures, An Interation e Masunaga Vapors

8.5
8.5

The Armed: “Ultrapop”

Ano: 2021

Selo: Sargent House

Gênero: Pós-Hardcore, Noise, Metalcore

Para quem gosta de: Converge e Japandroids

Ouça: All Futures, An Interation e Masunaga Vapors

/ Por: Cleber Facchi 26/04/2021

Não se deixe enganar pela colorida imagem de capa e título sugestivo: Ultrapop (2021, Sargent House) concentra o que há de mais caótico na música. Recente lançamento do misterioso e sempre mutável coletivo The Armed, grupo que tem como um de seus principais idealizadores Kurt Ballou, produtor e guitarrista do Converge, a banda formada na região de Detroit, Michigan, segue de onde parou há três anos, durante o desenvolvimento de Only Love (2018). São guitarras colossais, batidas e blocos de ruídos que se espalham em meio a métricas pouco usuais e vozes sobrepostas. Um delirante cruzamento de informações e captações sujas que costuram décadas de referências e elementos extraídos de cada colaborador, porém, partindo de uma abordagem deliciosamente anárquica.

E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos do disco. Passada a introdutória música de abertura, com seus sintetizadores cósmicos e melodias eletrônicas que parecem apontar para a obra do A Sunny Day In Glasgow, o ouvinte é instantaneamente soterrado por uma avalanche de ruídos e vozes berradas. Do ritmo frenético dado à bateria, passando pelo desenho irregular das guitarras e vozes que se entrelaçam de maneira desconcertante, All Futures revela parte dos elementos que serão aprimorados até o último segundo do álbum. Instantes em que a banda potencializa tudo aquilo que foi apresentado no registro anterior, conceito que vai da construção dos arranjos à montagem dos versos. “Humor honesto / Graças imorais / Chupar você / Te puxar mais fundo“, cresce a letra da canção.

Curioso notar que mesmo imerso em uma atmosfera essencialmente turbulenta, Ultrapop talvez seja o trabalho mais acessível já produzido pela banda. Parte desse resultado vem do uso pontual das guitarras e temas melódicos que passeiam com discrição ao fundo do álbum, como um precioso elemento de contraponto criativo. Exemplo disso acontece em Masunaga Vapors. Enquanto batidas e vozes berradas parecem sufocar o ouvinte, inserções atmosféricas surgem de forma discreta ao longo da canção, conceito reforçado com maior naturalidade nos minutos finais do registro, quando esses dois movimentos fluem de maneira coesa, quase harmônica, proposta que faz lembrar do som produzido no também contrastante Ordinary Corrupt Human Love (2018), do Deafheaven.

Esse mesmo direcionamento fica ainda mais explícito no que talvez seja uma das principais composições do álbum, An Interation. Entre ecos de My Bloody Valentine, conceito reforçado pelo uso instrumental das vozes femininas, a canção não apenas perverte parte do registro, como reflete o esforço do grupo em dialogar com uma parcela ainda maior do público. São guitarras, batidas e vozes rápidas que parecem pensadas para grudar na cabeça do ouvinte, tratamento também explícito em outros momentos ao longo do trabalho, como no rock eletrônico que toma conta de Average Death. É como se a banda, mesmo de um jeito completamente torto e anárquico, fizesse valer o título da obra, como uma estranha interpretação do que há de mais “pop” no som produzido pelo The Armed.

São justamente esses momentos de maior leveza que contribuem para a formação de músicas ainda mais instáveis. Perfeita representação desse resultado acontece em Big Shell. Posicionada entre An Interation e Average. Death, duas das composições mais acessíveis da obra, a canção concentra o que há de mais insano no som produzido pelo grupo. Da voz estridente que abre a faixa, passando pelo tratamento dado às batidas e guitarras, perceba como a banda combina diferentes abordagens criativas em um curtíssimo intervalo de tempo. Pouco mais de três minutos em que a linguagem inexata do The Armed esbarra na urgência do Converge, principalmente quando voltamos os ouvidos para a boa fase da banda, entre Axe to Fall (2009) e All We Love We Leave Behind (2012).

Dentro desse cenário caótico, cada composição se transforma em um importante objeto de estudo para a banda. São incontáveis camadas de guitarras, ruídos e sobreposições estéticas, mas que a todo momento esbarram em exercícios de maior abertura e evidente diálogo com o ouvinte, conceito reforçado no uso das vozes e versos afundados em conflitos existencialistas e sentimentais. A própria participação de Mark Lanegan, na derradeira The Music Becomes a Skull, contribui para esse resultado, funcionando como um estranho componente de normalidade. Instantes de criativa fragmentação das ideias que se completam pelo uso de estruturas melódicas e formas quase aprazíveis, como uma soma das ideias e experiências compartilhas por cada colaborador em estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.