Image
Crítica

The Bug

: "Fire"

Ano: 2021

Selo: Ninja Tune

Gênero: Dubstep, Grime, Dub

Para quem gosta de: Scream, Burial e Zomby

Ouça: Pressure, Ganja Baby e Hammer

8.0
8.0

The Bug: “Fire”

Ano: 2021

Selo: Ninja Tune

Gênero: Dubstep, Grime, Dub

Para quem gosta de: Scream, Burial e Zomby

Ouça: Pressure, Ganja Baby e Hammer

/ Por: Cleber Facchi 23/09/2021

Incêndios, incêndios por toda parte. Em Fire (2021, Ninja Tune), mais recente criação de Kevin Martin como The Bug, o produtor londrino traz de volta a essência colaborativa do cultuado London Zoo (2008), porém, partindo de uma abordagem totalmente pós-apocalíptica. Imerso em um ambiente pandêmico e futurístico, como uma metáfora para o presente cenário, o artista se divide na construção de música essencialmente brutais e sufocantes. São blocos imensos de ruídos que se espalham em meio a momentos de maior experimentação e quebras bruscas, estrutura que se completa pela interferência direta de diferentes compositores e entidades do grime que funcionam como porta-vozes desse cenário caótico.

Passado o material entregue na introdutória The Fourth Day, em que o poeta Roger Robinson detalha o cenário consumido pela miséria, fome, robôs e doenças incuráveis que orientam a formação do disco, Fire cai como um peso na cabeça do ouvinte. Em Pressure, segunda composição do disco, Martin apresenta parte das regras, ritmos e conceitos que serão explorados até o encerramento da obra. Poucos mais de três minutos em que sintetizadores acinzentados se entrelaçam em meio a batidas fragmentadas, pano de fundo atmosférico para a rima suja de Flowdan, parceiro em outras duas canções que abastecem o trabalho.

São composições densas, quase intransponíveis, porém, sempre ritmadas e diretas, estrutura que combina parte das ambientações testadas em Angels & Devils (2014) e no também colaborativo Concrete Desert (2017), parceria com Dylan Carlson, do Earth, mas que em nenhum momento se distancia do dinamismo explícito nas canções de London Zoo. E isso fica bastante evidente no encontro com Moor Mother, em Vexed. Da construção das batidas ao uso das vozes, como um feitiço sendo lançado contra o ouvinte, cada elemento da canção parece pensado para causar desconforto e seduzir o púbico na mesma proporção.

Essa mesma força criativa fica ainda mais evidente em outras colaborações com Flowdan ao longo da obra, caso de Hammer e Bomb. São músicas sempre intensas e dilacerantes, como retalhos poéticos e rítmicos que se chocam de maneira industrial. É como um acumulo natural de tudo aquilo que Martin tem produzido ao longo da última década. Ideias e atravessamentos instrumentais que mudam de direção a todo instante. Quem também se destaca é a rapper FFSYTHO, dona das rimas que tomam conta de How Bout Dat, no miolo do disco, e o conterrâneo Logan_Olm, convidado a assumir os versos da política Fuck Off.

Interessante notar que mesmo regido pela crueza dos elementos e narrativa sombria, Fire em nenhum momento soa como uma obra inacessível. Pelo contrário, a todo momento, Martin revela ao público uma seleção de faixas que preservam a essências dos antigos trabalhos como The Bug. Exemplo disso fica bastante evidente na escapista Ganja Baby. Completa pela participação do jamaicano Daddy Freddy, detentor do título de rapper mais rápido do mundo segundo o Guinness Book de 1989, a canção traz de volta a essência de músicas como Skeng, Angry e outras criações menos herméticas do produtor inglês.

Não por acaso, Fire se revela como o trabalho mais equilibrado de The Bug desde a ascensão com London Zoo. Ao mesmo tempo em que preserva a identidade conceitual do registro, amarrando tudo na derradeira The Missing, também completa pela presença de Roger Robinson, Martin entrega ao público uma seleção de faixas que estranhamento convidam o ouvinte a dançar. Instantes em que o produtor britânico rompe com a proposta experimental da sequência de obras reveladas nos últimos anos, vide o colaborativo e ainda recente In Blue (2020), com Das Fig, para mergulhar um registro quente e de essência particular.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.