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Crítica

The Drums

: "Jonny"

Ano: 2023

Selo: ANTI-

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Beach Fossils e Ducks Ltd.

Ouça: I Want It All e Plastic Envelope

7.4
7.4

The Drums: “Jonny”

Ano: 2023

Selo: ANTI-

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Beach Fossils e Ducks Ltd.

Ouça: I Want It All e Plastic Envelope

/ Por: Cleber Facchi 02/01/2024

Há muito, o som produzido pelo The Drums deixou de ser encarado como parte de um projeto colaborativo para se transformar em uma manifestação dos tormentos, romances, desilusões e experiências vividas pelo músico Jonathan Pierce. Não por acaso, toda a sequência de obras reveladas ao público nos últimos anos, como Abysmal Thoughts (2017) e Brutalism (2019), se tornaram cada vez mais intimistas, destacando o lirismo confessional e evidente entrega do artista, conceito que volta a se repetir em Jonny (2023, ANTI-).

Da expositiva imagem de capa, passando pela construção dos versos, cada mínimo fragmento do álbum funciona como uma manifestação sentimental do músico estadunidense. Composições que se projetam em um direcionamento talvez egoico, porém, estranhamente convidativas, como um diálogo permanente do artista com o próprio ouvinte. “Acredite em mim, eu tentei tanto / Manter você em minha vida“, confessa logo nos minutos iniciais do trabalho, em I Want It All, criação que não apenas destaca a vulnerabilidade e entrega emocional de Pierce, como o domínio do cantor na produção de faixas puramente radiofônica.

São composições que se resolvem em um intervalo de poucos minutos, porém, sempre marcadas pela força dos sentimentos. “Eu pensei que morreria ao seu lado / Eu pensei que, querido, essa era a nossa vida / Você disse para sonhar, então sonhei bastante / Agora eu não te conheço mais“, desaba em Plastic Envelope, música que sintetiza parte desse lirismo angustiado e forte melancolia que orienta o trabalho, porém, preservando o refinamento melódico dos arranjos. Observado atentamente, Jonny talvez seja o registro que mais se aproxima do homônimo álbum que apresentou as criações de Pierce no início da década passada.

Exemplo disso fica bastante evidente na sequência formada por Obvious e The Flowers. São pouco mais de oito minutos em que o músico norte-americano traz de volta as mesmas guitarras timbrísticas e forte relação com o pop litorâneo que orienta algumas de suas principais criações, como Best Friend e Let’s Go Surfing. Mesmo quando desacelera momentaneamente, como Be Gentle, Pierce continua a resgatar uma série de elementos que apresentaram a banda há mais de uma década. Composições que atravessam o pop dos anos 1960 e 1970 em um exercício tão referencial quanto íntimo dos antigos trabalhos do projeto.

Mesmo orientado por uma série de elementos bastante característicos dos primeiros discos produzidos pelo The Drums, Jonny talvez seja o trabalho que mais amplia os horizontes musicais de Pierce. Terceira faixa do álbum, I’m Still Scared funciona como uma boa representação desse resultado, destacando a relação do artista com a produção eletrônica. Esse mesmo direcionamento, porém, partindo de uma abordagem diferente, acaba se refletindo em Dying, música que se completa pela participação de Rico Nasty. Surgem ainda canções como Isolette e Protect Him Always que levam a obra para outras direções.

Partindo desse esforço de Pierce em se reinventar criativamente e preservar parte da própria identidade, difícil não pensar em Jonny como o álbum mais relevante da banda desde Portamento (2011). Ainda que parte do repertório seja formado a partir de ideias ainda incompletas e o número de canções estenda a duração do material para muito além do necessário, prevalece a sensação de um registro consistente. A própria escolha do compositor em transformar a si mesmo em um objeto temático contribui ainda mais para esse resultado, como a passagem para um mundo particular do artista, contudo, nunca inacessível.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.