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Crítica

The Hives

: "The Death of Randy Fitzsimmons"

Ano: 2023

Selo: The Hives AB

Gênero: Rock

Para quem gosta de: The Raconteurs e Franz Ferdinand

Ouça: Countdown to Shutdown e Bogus Operandi

7.0
7.0

The Hives: “The Death of Randy Fitzsimmons”

Ano: 2023

Selo: The Hives AB

Gênero: Rock

Para quem gosta de: The Raconteurs e Franz Ferdinand

Ouça: Countdown to Shutdown e Bogus Operandi

/ Por: Cleber Facchi 21/08/2023

Mesmo após um intervalo de dez anos, não é difícil prever o que você irá encontrar no repertório de The Death of Randy Fitzsimmons (2023, The Hives AB). Primeiro trabalho de inéditas do The Hives após um hiato de uma década longe dos estúdios, o sucessor de Lex Hives (2012) segue a cartilha dos registros que o antecedem, investindo em uma combinação de vozes rasgadas e guitarras altamente aceleradas, porém, rompe com qualquer traço de previsibilidade ao sustentar na construção dos versos uma análise sobre o atual cenário político e as transformações que mudaram o mundo desde que o quinteto saiu de férias.

Sem necessariamente perder o bom humor, proposta que há mais de duas décadas embala as criações de Howlin’ Pelle Almqvist, Nicholaus Arson, Chris Dangerous, Vigilante Carlstroem e The Johan and Only, The Death of Randy Fitzsimmons se aprofunda na crise econômica da Europa, o caos social pós-pandemia de Covid-19 e outros conflitos envolvendo diferentes núcleos da sociedade. “Tenho todos os fatos, tenho todos os números / Mas com todos eles, você discorda / 4, 3, 2, 1 / Contagem regressiva para desligar“, cresce a letra de Countdown To Shutdown, uma deliciosa reflexão sobre a inevitabilidade do colapso financeiro.

De fato, poucas vezes antes o som produzido pelo grupo sueco pareceu tão pertinente quanto em The Death of Randy Fitzsimmons. São canções que passeiam por diferentes cenários, temas e acontecimentos em uma abordagem que reforça a completa sensação de deslocamento vivido pelo eu lírico. “Disseram-me para ouvir todas as merdas idiotas que as pessoas dizem / Mas eu extraí sabedoria de meu próprio poço e nunca tive um momento de dúvida“, brinca Almqvist em Two Kinds of Trouble, música que sintetiza parte dessa poética angustiada, mas que em nenhum momento parece pesar sobre o repertório do trabalho.

Parte desse resultado vem do esforço do grupo em alternar entre composições marcadas pelo aspecto provocativo e faixas que destacam o bom humor do quinteto sueco. Exemplo disso pode ser percebido na pegajosa Rigor Mortis Radio, canção que não apenas destaca o lado descompromissado da banda, como reflete a capacidade do quinteto em dialogar com o rock dos anos 1960 e 1970 em uma estrutura sempre particular. A própria música de abertura, Bogus Operandi, é uma dessas criações descomplicadas que parecem pensadas para capturar a atenção do ouvinte sem dificuldades, logo em uma primeira audição.

A exemplo de tudo aquilo que a banda tem explorado desde a estreia com Barely Legal (1997), The Death of Randy Fitzsimmons é uma obra que se distancia de possíveis excessos, revelando uma sequência de faixas que se revolvem em um intervalo de um ou dois minutos. Canções como Trapdoor Solution e The Bomb que engatam em uma sequência de batidas e guitarras rápidas, explodem em um refrão poderoso e se encerram tão rapidamente quanto são apresentadas. Mesmo quando desacelera momentaneamente, há sempre um elemento, rítmico ou poético, que parece catapultar o ouvinte para a composição seguinte.

Tão potente quanto qualquer outro registro apresentado pelo The Hives, The Death of Randy Fitzsimmons mais uma vez evidencia a jovialidade e capacidade do grupo em manter a atenção do ouvinte em alta durante toda a execução do material. Mesmo que o álbum pouco se distancie estruturalmente dos discos que o antecedem, o que diminui a sensação de impacto em relação ao trabalho, tudo é tratado de forma tão intensa, bem resolvida e direta ao ponto que é fácil se deixar conduzir pelo som do quinteto. Do lirismo bem-humorado à completa urgência dos arranjos, é sempre bom estar em companhia da banda sueca.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.