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Crítica

The Killers

: "Imploding the Mirage"

Ano: 2020

Selo: Island

Gênero: Pop Rock, Synthpop

Para quem gosta de: Franz Ferdinand e The Strokes

Ouça: Caution, Dying Breed e My God

7.5
7.5

The Killers: “Imploding the Mirage”

Ano: 2020

Selo: Island

Gênero: Pop Rock, Synthpop

Para quem gosta de: Franz Ferdinand e The Strokes

Ouça: Caution, Dying Breed e My God

/ Por: Cleber Facchi 24/08/2020

Brandon Flowers nunca escondeu o próprio fascínio pelos anos 1980. Do nome da banda, The Killers, inspirado em um clipe do New Order, passando pelo uso quase caricato dos sintetizadores e referências típicas do rock de arena, cada elemento que embala o trabalho do quarteto de Las Vegas encontra no som produzido há mais de três décadas um importante componente criativo. Da estreia, com Hot Fuss (2004), à entrega de obras como Sam’s Town (2006) e Day & Age (2008), ou mesmo registros menores, como o arrastado Battle Born (2012), sobram instantes em que o artista e seus parceiros de banda, Dave Keuning, Ronnie Vannucci Jr. e Mark Stoermer, apontam diretamente para passado.

Entretanto, mesmo nesse contexto nostálgico, onde todas as regras parecem previamente estabelecidas, ninguém poderia imaginar que a banda fosse capaz estreitar ainda mais a relação com a década de 1980 e, ao mesmo tempo, se reinventar dentro de estúdio, fenômeno que embala as canções do recém-lançado Imploding the Mirage (2020, Island). Sexto e mais recente álbum do quarteto de Nevada, o sucessor de Wonderful Wonderful (2017), mostra um grupo tão entusiasmado quanto em início de carreira. Canções marcadas pela mesma potência criativa que embala os introdutórios Hot Fuss e Sam’s Town, porém, dotadas de um refinamento único.

Não por acaso, o grupo fez de Caution a primeira composição do álbum a ser apresentada ao público. Marcada pela presença de Lindsey Buckingham, guitarrista do Fleetwood Mac, a canção ganha forma em meio a incontáveis camadas de sintetizadores, arranjos detalhistas e os habituais versos crescentes de Flowers, como se pensados para grudar na cabeça do ouvinte. São fragmentos instrumentais que transitam por diferentes campos da música, estrutura que vai da essência catártica que define a obra de Bruce Springsteen aos versos orquestrados de Bono Vox, como se o quarteto confessasse algumas de suas principais referências criativas.

Exemplo disso acontece em Dying Breed, terceira faixa do disco. Concebida a partir de trechos de Hallogallo, do grupo alemão NEU!, e Moonshake, da também germânica Can, a canção deixa de flertar com o pop da década de 1980 para dialogar com o krautrock dos anos 1970. Da construção das batidas ao tratamento dado aos arranjos, poucos vezes antes a banda de Las Vegas pareceu tão interessada em provar de novas possibilidades. Mesmo Blowback, logo na abertura do álbum, sustenta no uso dos sintetizadores uma abordagem diferente em relação aos antigos trabalhos do quarteto, conceito que acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra, o que força uma audição atenta por parte do ouvinte, convidado a desvendar esses detalhes. Não há nada de novo por aqui, contudo, a forma como Flowers e seus parceiros exploram cada elemento é o que torna o registro interessante.

Parte desse sentimento de renovação e busca por novas possibilidades vem da escolha da própria banda em estreitar a relação com um time diferente de colaboradores. É o caso do produtor canadense e engenheiro de som Shawn Everett, músico que já trabalhou ao lado de nomes como Alabama Shakes e Kacey Musgraves, e o sempre prolífico Jonathan Rado, um dos integrantes do Foxygen e co-produtor de obras recentes apresentadas por Father John Misty e Whitney. Mesmo a escolha dos convidados no decorrer do disco, como Weyes Blood, em My God, e k.d. lang, em Lightning Field, reflete o desejo do quarteto em se reinventar criativamente, rompendo com o som previsível que o grupo parecia ter adotado durante o lançamento de Battle Born.

Curioso notar que mesmo marcado pelo riqueza dos elementos e o uso de experimentações sutis, Imploding the Mirage em nenhum momento interfere na produção de faixas puramente radiofônicas. Do momento em que tem início, em My Own Soul’s Warning, passando por Fire In Bone e a própria faixa-título, cada elemento do trabalho reflete a capacidade da banda em revelar ao ouvinte com um repertório grandioso, feito para ser cantado a plenos pulmões. São faixas que parecem maiores a cada nova audição, conceito que muito se assemelha ao repertório apresentado em Sam’s Town, porém, partindo de um novo direcionamento estético. Instantes em que o grupo de Nevada preserva de perverte a própria identidade criativa, garantindo ao público sua melhor obra em anos.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.