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Crítica

The New Pornographers

: "Continue as a Guest"

Ano: 2023

Selo: Merge

Gênero: Indie Rock, Power Pop

Para quem gosta de: Spoon e Wolf Parade

Ouça: Pontius Pilate's Home Movies e Angelcover

7.3
7.3

The New Pornographers: “Continue as a Guest”

Ano: 2023

Selo: Merge

Gênero: Indie Rock, Power Pop

Para quem gosta de: Spoon e Wolf Parade

Ouça: Pontius Pilate's Home Movies e Angelcover

/ Por: Cleber Facchi 20/04/2023

Com mais de duas décadas de carreira, os integrantes do grupo canadense The New Pornographers parecem saber exatamente que direção seguir em estúdio. E isso fica bastante evidente com a chegada de Continue as a Guest (2023, Merge). Primeiro registro de inéditas da banda que hoje conta com Carl Newman, Kathryn Calder, Neko Case, John Collins, Todd Fancey e Joe Seiders, o trabalho de dez faixas combina letras marcadas pelo forte aspecto provocativo e estruturas melódicas que potencializam tudo aquilo que tem sido incorporado pelo coletivo desde a entrega do introdutório Mass Romantic (2000).

Logo na abertura do disco, a banda surpreende com Really Really Light, uma parceria entre Newman e Dan Bejar, integrante que costuma dividir suas funções com o Destroyer, e uma síntese da contrastante combinação entre a sobriedade dos versos com as harmonias de vozes e bases sempre cantaroláveis. Esse mesmo resultado fica ainda mais evidente com a chegada de Pontius Pilate’s Home Movies, uma amarga reflexão sobre a influência das redes sociais e da mídia em nossas vidas, mas que em nenhum momento perde o caráter acessível, abrindo passagem para a atmosférica, ainda que incisiva Cat and Mouse With the Light, composição que destaca o refinamento dado aos arranjos e vozes bem encaixadas de Case.

Em Last and Beautiful, vinda logo em sequência, uma parcial fuga desse resultado. Enquanto os versos funcionam como um chamado (“O negócio foi feito, eu pontilhei todos os is, exceto um / E eu não quero ir sozinho, venha comigo“), reforçando o aspecto político que orienta parte expressiva da obra, camadas de guitarras e vozes sobrepostas destacam a combinação de forças do grupo canadense, atuando como um verdadeiro coletivo. Um evidente ponto de grandeza que se completa pela música seguinte, a própria faixa-título do trabalho. “A maioria de nós não tem o luxo de ceder / Se você está falando em desistir, bem, isso é outra coisa“, canta Newman em meio a versos que vão do atual cenário político à pandemia de Covid-19.

Vem justamente dessa sensação de sufocamento e repetições vividas durante o período pandêmico a base para a canção seguinte, Bottle Episodes. “Aqui dentro do brilho da TV / Desses episódios engarrafados“, cresce a letra que se espalha em meio a camadas de guitarras e vozes melancólicas, como uma curva leve, porém, necessária em relação ao restante da obra. Essa mesma delicadeza no processo de criação ainda encaminha o ouvinte para a música seguinte, Marie and the Undersea, canção que beira o pop de câmara, efeito das vozes e ambientações sutis, mas que sustenta no encaixado dos versos uma análise profunda sobre o culto ao corpo e o uso de cirurgias plásticas como componente de desconstrução da própria identidade.

Passado esse momento de maior contemplação, Angelcover mostra a capacidade do grupo canadense em desenvolver canções altamente pegajosas. Da combinação de vozes à letra marcada por elementos oníricos, passando pelas guitarras que evocam nomes como The Smiths, difícil não se deixar conduzir pelo material entregue pela banda. Tudo é tão bem desenvolvido que Firework in the Falling Snow, vinda logo em sequência, quase acaba engolida, efeito da produção contida e letra morna que pouco contribui quando próxima de outras composições apresentadas pelo The New Pornographers ao longo do trabalho.

Nada que a derradeira Wish Automatic Suite não dê conta de solucionar. Inaugurada de maneira contida, como uma extensão da faixa que a antecede, a composição avança e cresce aos poucos, destacando a construção dos versos que mais uma vez soam como um chamado para o ouvinte. “Encontre-me no labirinto de espelhos, diga-me quando encontrar o chão / Diga-me quando você encontrar a saída“, detalha a letra da canção. São harmonias de vozes, sintetizadores e batidas sempre destacadas, como uma soma de tudo aquilo que tem sido explorado pelo coletivo canadense em estúdio desde as primeiras criações.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.