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Crítica

The Range

: "Mercury"

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Loraine James e Caribou

Ouça: Ricercar e Urethane

7.4
7.4

The Range: “Mercury”

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Loraine James e Caribou

Ouça: Ricercar e Urethane

/ Por: Cleber Facchi 21/07/2022

Seis anos se passaram desde que James Hinton deu vida ao último disco como The Range, Potential (2016). De lá pra cá, salve o encontro com o britânico Tourist, em Last, e o resgate de composições que acabaram de fora do primeiro álbum, Nonfiction (2013), nada mais foi revelado pelo artista original de Stroudsburg, Pensilvânia. O motivo de tamanho espera? Hinton estava em busca das vozes, batidas e outros fragmentos instrumentais para dar vida a um novo registro de inéditas. O resultado desse processo está na entrega de Mercury (2022, Domino), terceiro e mais recente trabalho assinado pelo produtor norte-americano.

Naturalmente íntimo de tudo aquilo que Hinton havia testado nos dois primeiros trabalhos de estúdio, o registro estabelece na sobreposição dos elementos um estímulo para a construção das faixas. E isso fica bastante evidente logo na introdutória Bicameral. Uma das primeiras composições do disco a serem reveladas ao público, a faixa parte de uma base atmosférica, porém, cresce no uso das batidas, vozes e sintetizadores cíclicos. São pequenos acréscimos que surgem e desaparecem durante toda a execução do material. Instantes em que o produtor aponta para as pistas em uma abordagem deliciosamente particular.

A principal diferença em relação a outros trabalhos apresentados por The Range, sempre centrados na construção das batidas e sintetizadores pouco usuais, está na forma como Hinton potencializa o uso das vozes. Terceira composição do disco, Urethane funciona como uma boa representação desse resultado. Pouco menos de três minutos em que ambientações psicodélicas se completam pelo misto de canto e rima encaixado pelo produtor. Mesmo quando desacelera, como na atmosférica Not For Me, a voz ecoa de forma bastante destacada, como um instrumento volátil que assume diferentes formatações nas mãos do artista.

O mais interessante talvez seja notar como essas mesmas vozes, sempre extraídas de antigas canções de R&B/soul, orientam os rumos percorridos pelo artista longo do trabalho. Em Cantor, por exemplo, perceba como Hinton utiliza de uma abordagem essencialmente acessível, flertando com a música pop em uma estrutura que pouco se assemelha aos primeiros registros de estúdio. Outra que chama a atenção é Relegate, composição que reforça o lado dançante do disco, conceito que tem sido explorado por Hinton desde o lançamento anterior, mas que parece melhor incorporado ao repertório do presente álbum.

De fato, esse talvez seja o registro em que Hinton mais se permite testar os próprios limites em estúdio. São composições que transitam diferentes estilos, ritmos e direções criativas de forma sempre curiosa. Nada que prejudique a construção de faixas ainda íntimas dos antigos trabalhos apresentados pelo produtor. Exemplo disso acontece em Ricercar. Enquanto a base da faixa aponta diretamente para o repertório de Nonfiction, fragmentos de vozes, sobreposições e sintetizadores melódicos tingem com novidade os rumos da canção. É como um permanente resgate de informações e busca do artista por novas possibilidades.

Embora avance criativamente, não há como ignorar que muitas das músicas apresentadas em Mercury utilizam de uma abordagem bastante similar. Salve exceções, como a já citada Relegate, Hinton se concentra na montagem de canções marcadas pelo aspecto cíclico. A própria Bicameral, encaixada logo na abertura do disco, parece servir de molde para o restante do trabalho. Composições que parecem dar voltas em torno de um mesmo conjunto de ideias, estrutura que talvez passe despercebida em uma audição despretenciosa, mas que acaba ficando bastante evidente a cada novo regresso do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.