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Crítica

The War On Drugs

: "I Don’t Live Here Anymore"

Ano: 2021

Selo: Atlantic

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Kurt Vile, Wilco e Sharon Van Etten

Ouça: I Don’t Live Here Anymore e Harmonia's Dream

8.5
8.5

The War On Drugs: “I Don’t Live Here Anymore”

Ano: 2021

Selo: Atlantic

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Kurt Vile, Wilco e Sharon Van Etten

Ouça: I Don’t Live Here Anymore e Harmonia's Dream

/ Por: Cleber Facchi 09/11/2021

Embora localizada no encerramento do trabalho, Occasional Rain funciona como uma síntese clara de tudo aquilo que Adam Granduciel e seus parceiros de banda buscam desenvolver ao longo de I Don’t Live Here Anymore (2021, Atlantic). Enquanto camadas de sintetizadores e guitarras deliciosamente melódicas se revelam ao público em uma medida própria de tempo, versos consumidos pelos sentimentos apontam a trilha melancólica seguida pelo grupo da Filadélfia durante toda a execução do registro. “E agora que meu coração está vazio / Para onde devo ir?“, questiona enquanto estreita a relação com o próprio ouvinte.

Concebido em um intervalo de quase três anos, o trabalho gravado em sete estúdios diferentes, incluindo os cultuados Electric Lady, em New York, e Sound City, em Los Angeles, nasce como uma combinação dos sentimentos mais profundos e honestos do músico estadunidense. São canções ancoradas em amores passageiros, medos, romances fracassados e momentos de maior vulnerabilidade, como se a jornada romântica iniciada em Wagonwheel Blues (2008) estivesse longe de chegar ao fim. Composições que mesmo particulares, utilizam de temas e conceitos universais, prova do completo domínio de Granduciel.

E isso fica bastante evidente na já conhecida Change, terceira faixa do disco. São pouco mais de seis minutos em que o personagem central da composição busca se reconectar a um antigo amor (“Eu tenho fugido da luz branca / Para tentar chegar até você / Me diga tudo que você precisa / Eu tenho tentado tanto“), mesmo sabendo da inevitabilidade do fim (“Nosso amor poderia sobreviver / Mas é tão difícil fazer essa mudança / Talvez eu tenha nascido tarde demais“). É como se Granduciel fosse capaz de incorporar e adaptar de forma ainda mais eficiente tudo aquilo que veteranos da indústria, como Bono Vox, Bruce Springsteen, Jeff Tweedy e Bob Dylan, têm explorado sentimentalmente nas últimas quatro décadas.

Não por acaso, I Don’t Live Here Anymore exerce um estranho fascínio e doce sensação de familiaridade logo em uma primeira audição. Do tratamento dado aos sintetizadores ao uso das guitarras, vozes e batidas sempre ecoadas, perceba como Granduciel e o baixista Dave Hartley, com quem gravou parte expressiva do trabalho, parecem dançar pelo tempo em uma criativa sobreposição de ideias e referências empoeiradas. Instantes em que somos reapresentados ao mesmo universo criativo detalhado em Lost in the Dream (2014) e A Deeper Understanding (2017), porém, partindo de um novo e delicado ponto de vista.

Exemplo disso acontece na própria faixa-título do trabalho. São camadas de guitarras, sintetizadores e vozes em coro que parecem saídas de alguma estação de rádio dos anos 1980, porém, sempre adaptadas de forma a potencializar os sentimentos do artista. “Embora você tenha tirado tudo que eu preciso / Eu vou te levar para o lugar que eu preciso ir / Estamos todos caminhando por esta escuridão por conta própria“, detalha em um misto de pessimismo e esperança, dualidade que se reflete durante toda a execução do registro e que funciona como uma representação do período de instabilidade em que vivemos atualmente.

Com base nessa combinação entre passado e presente, dor e busca por um novo começo, I Don’t Live Here Anymore acaba se revelando como uma obra essencialmente equilibrada. Do momento em que tem início em Living Proof, com suas ambientações acústicas e vozes sempre reducionistas, até alcançar a derradeira Occasional Rain, Granduciel sabe como confortar o ouvinte sem necessariamente fazer disso o estímulo para um registro previsível ou consumido em excesso pelas próprias referências. É como embarcar em uma jornada onde você sabe exatamente o que irá encontrar pela frente e ainda se surpreender.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.