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Crítica

Thiago França

: "Canhoto de Pé"

Ano: 2024

Selo: YB Music

Gênero: Jazz, Experimental

Para quem gosta de: Metá Metá e Rodrigo Campos

Ouça: Canhoto de Pé, Luango e Dor Elegante

7.8
7.8

Thiago França: “Canhoto de Pé”

Ano: 2024

Selo: YB Music

Gênero: Jazz, Experimental

Para quem gosta de: Metá Metá e Rodrigo Campos

Ouça: Canhoto de Pé, Luango e Dor Elegante

/ Por: Cleber Facchi 23/08/2024

Canhoto de Pé (2024, YB Music) é um desses trabalhos que vão se construindo na sua frente. Descrito pelo próprio Thiago França como seu “disco menos planejado“, o registro de sete composições segue de onde o saxofonista e compositor mineiro parou há três anos, durante o lançamento de Bodiado (2021), entretanto utiliza de uma abordagem diferente. Longe das sobreposições minimalistas de outrora, o músico radicado em São Paulo se aventura em um repertório que, mesmo econômico, cresce para além dos próprios limites.

Primeiro álbum de França após o período pandêmico, Canhoto de Pé mostra um artista se redescobrindo em estúdio. Não por acaso, após “baixar” todas as informações necessárias na introdutória Download de Paranóia, o compositor de fato diz a que veio com Luango, canção em que apresenta parte dos conceitos que serão explorados ao longo do material. São pequenos improvisos que ainda se completam pela bateria meticulosa de Welington “Pimpa” Moreira e o baixo de Marcelo Cabral, parceiro de longa data do músico.

Uma vez ambientado à própria criação, França mergulha no que talvez seja o elemento central do disco: a faixa-título. São pouco menos de nove minutos de duração em que cada instrumento assume uma posição de destaque. Enquanto a bateria de Pimpa dita os rumos da canção, o baixo elegante de Cabral corre ao fundo do registro, deixando que o saxofone passeie livremente e assuma diferentes formatações ao longo da composição. É como um ambiente totalmente aberto às possibilidades, ritmos e formas instrumentais.

Passado esse momento de maior grandeza, Canhoto de Pé muda de direção, quase silencia, mas continua a impressionar o ouvinte com seus dribles inexatos. Agora acompanhado da companheira Juçara Marçal, o músico reinterpreta com minimalismo Dor Elegante, de Itamar Assumpção. Econômica, a faixa que evoca o primeiro disco do Metá Metá surge como um respiro sutil que antecede a colorida combinação de estilos em Ajuntó de Xangô, canção que cresce com a percussão de dois integrantes do grupo Aguidavi do Jêje.

É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais interessante com a posterior Fear of The Bate-Bola. De ritmo frenético, como se saída da trilha sonora de um filme de ação, a faixa transporta para dentro de estúdio um medo de infância comum para aqueles que cresceram no subúrbio do Rio de Janeiro: a perseguição dos bate-bolas durante o Carnaval. Um delirante cruzamento de informações que encolhe e cresce a todo momento, reforçando a atmosfera aterrorizante que aos poucos se apodera da composição.

Talvez anticlimática depois da aceleração elaborada em Fear of the Bate-Bola, a regravação de Cabecinha no Ombro, sucesso popular de Paulo Borges na década de 1950, cumpre com naturalidade a abordagem imprevisível que músico propõe logo no título da obra. Afinal, sempre que você espera o ataque de um lado, França surge do outro, conceito que se reflete tão logo o disco tem início, na já citada Download de Paranóia, cresce em canções como a hipnótica faixa-título e segue até os acréscimos finais do trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.