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Crítica

Tim Hecker

: "No Highs"

Ano: 2023

Selo: Kranky

Gênero: Experimental, Drone, Música Ambiente

Para quem gosta de: Fennesz e William Basinski

Ouça: Lotus Light e Living Spa Water

7.4
7.4

Tim Hecker: “No Highs”

Ano: 2023

Selo: Kranky

Gênero: Experimental, Drone, Música Ambiente

Para quem gosta de: Fennesz e William Basinski

Ouça: Lotus Light e Living Spa Water

/ Por: Cleber Facchi 25/04/2023

A fotografia enevoada de uma cidade virada de ponta cabeça na capa de No Highs (2023, Kranky), mais recente trabalho de estúdio de Tim Hecker, funciona como um precioso indicativo de tudo aquilo que o compositor canadense busca desenvolver ao longo do registro. Inspirado pelo conceito da positividade tóxica que invade os ambientes corporativos, Hecker revela ao público uma obra marcada pelo caráter opressivo. São estruturas que rompem com a atmosfera soturna dos últimos materiais do músico, porém, preservando o direcionamento labiríntico que tem sido incorporado pelo artista desde os anos 2000.

Quarta faixa do disco e música escolhida para anunciar a chegada de No Highs, Lotus Light concentra parte expressiva dos elementos que orientam a experiência do ouvinte durante toda a execução da obra. Em um intervalo de mais de oito minutos de duração, Hecker deixa de lado as texturas e fitas magnéticas dos antigos trabalhos para destacar o uso de sintetizadores. São ambientações frias e acinzentadas que fazem lembrar do material desenvolvido por Trent Reznor e Atticus Ross na trilha sonora de A Rede Social (2010), mas que em nenhum momento rompem com a identidade artística do compositor canadense.

A diferença em relação aos antigos registros de Hecker, sempre imersivos, como se trabalhados em uma medida própria de tempo, está na forma como o compositor concede ritmo ao material. Ainda que isso fique bem representado nos sintetizadores que funcionam como um código morse logo na introdutória Monotony, esse mesmo tratamento acaba se refletindo em diversas outras composições de No Highs. É o caso de Anxiety, faixa que utiliza da sensação explícita no próprio título para avançar em direção ao ouvinte. Uma intensa sobreposição de elementos que reforça o sufocamento que rege o repertório do disco.

O problema é que essa mesma estrutura, tão determinante para o desenvolvimento do trabalho, acaba se repetindo de forma pouco inventiva em diferentes momentos no decorrer do registro. São as mesmas marcações de sintetizadores e efeitos, porém, organizadas em blocos de diferentes durações. Em In Your Mind, por exemplo, difícil não pensar na composição como uma sequência preguiçosa do material consolidado em Anxiety e Monotony. A própria Monotony II, mesmo completa pela participação do saxofonista Colin Stetson, pouco avança quando próxima do tipo de som incorporado na abertura do disco.

Ainda assim, Hecker reserva algumas surpresas e diferentes composições que rompem com essa lógica. Música de encerramento do disco, Living Spa Water funciona como uma boa representação disso. Faixa que mais se aproxima dos antigos trabalhos do artista, lembrando o material entregue em Ravedeath, 1972 (2011), a canção de quase sete minutos encanta pela imprevisível sobreposição dos elementos, ruídos e captações de campo que bagunçam a experiência do ouvinte. Mesmo criações menores, como Winter Cup, seduzem pela forma como o compositor parece mergulhar em uma nuvem de sons quase intransponíveis.

Entre altos e baixos, prevalece a capacidade de Hecker de envolver e transportar o ouvinte para dentro de um cenário marcado pelas sensações. Mesmo que parte expressiva do repertório parece ancorado em conceitos bastante similares, difícil não se deixar conduzir pela jornada proposta pelo artista logo nos minutos iniciais do trabalho. São camadas de sintetizadores, ruídos e incontáveis atravessamentos de informações. Instantes em que o compositor norte-americano parte de uma abordagem bastante específica para desconstruir e remontar tudo aquilo que tem sido explorado em mais de duas décadas de atuação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.