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Crítica

Titus Andronicus

: "The Will To Live"

Ano: 2022

Selo: Merge

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: The Hold Steady e Built To Spill

Ouça: (I'm) Screwed e We’re Coming Back

7.8
7.8

Titus Andronicus: “The Will To Live”

Ano: 2022

Selo: Merge

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: The Hold Steady e Built To Spill

Ouça: (I'm) Screwed e We’re Coming Back

/ Por: Cleber Facchi 18/10/2022

Patrick Stickles não poderia ter escolhido canção melhor para anunciar o lançamento de The Will To Live (2022, Merge) do que We’re Coming Back. Como o título e letra da canção apontam (“Estamos voltando / Estamos voltando para você / Nós nunca iremos embora novamente“), a faixa marcada pela temática do regresso funciona como uma boa representação de tudo aquilo que o músico norte-americano busca desenvolver no sétimo e mais recente trabalho de estúdio do Titus Andronicus. São canções marcadas pela potência dos arranjos, batidas e vozes, como um retorno à boa fase da banda original de Nova Jersey.

E se isso não for o suficiente para ilustrar o direcionamento dado pelo grupo estadunidense, a sequência composta pelas introdutórias My Mother Is Going to Kill Me e (I’m) Screwed torna essa percepção ainda mais evidente. Enquanto a primeira composição se sustenta na ausência de vozes e uso destacado dos instrumentos, a canção vinda logo em sequência traz de volta o que há de melhor no som produzido pela banda. São guitarras que vão de Bruce Springsteen ao material entregue na obra-prima da Titus Andronicus, The Monitor (2010), proposta que rapidamente arremessa o ouvinte para dentro do disco.

Sequência ao material entregue no mediano An Obelisk (2019), The Will To Live é um registro que pouco acrescenta em termos de inovação, porém, se revela como o trabalho mais consistente da banda desde a ópera-rock The Most Lamentable Tragedy (2015). Contudo, diferente do material entregue há sete anos, talvez consumido por pequenos excessos, prevalece a força criativa e completo equilíbrio de Stickles durante toda a execução do repertório. Salve exceções, como na instrumental Gray Goo, cada composição assume uma função específica, inviabilizando possíveis exageros e momentos de maior instabilidade.

A própria relação com os parceiros de banda, Liam Betson (guitarra, vozes), R.J. Gordon (baixo, vozes) e Chris Wilson (bateria), com quem o guitarrista tem colaborado ativamente desde 2016, parece melhor estabelecida em relação aos trabalhos anteriores. E isso faixa ainda mais perceptível nos momentos em que o quarteto estrapola todo e qualquer limite dentro de estúdio, como em An Anomaly. Entre vozes rasgadas e guitarras ascendentes, o grupo convida o ouvinte a se perder em um intervalo de mais de sete minutos de duração. É como um imenso turbilhão instrumental que assume novas direções e cresce a todo instante.

E ela não é a única. Do momento em que tem início, em My Mother Is Going to Kill Me, até alcançar a derradeira 69 Stones, Stickles e seus parceiros não economizam na entrega de boas composições. É o caso de Give Me Grief, música que começa pequena, porém, cresce a cada novo movimento do grupo. Nada que se compare ao material apresentado em I Can Not Be Satisfied, canção que aponta para a década de 1970, mas em nenhum momento perverte a identidade criativa do quarteto. Mesmo faixas já conhecidas, como (I’m) Screwed e We’re Coming Back, ganham ainda mais destaque quando observadas como parte da obra.

Intenso e bem resolvido durante toda sua execução, The Will To Live garante novo fôlego à carreira do Titus Andronicus. Enquanto parte expressiva do material traz de volta a urgência explícita nos primeiros trabalhos de estúdio da banda, Stickles e seus parceiros aproveitam para estreitar laços e colaborar em estúdio com diferentes instrumentistas. Tamanha convergência de ideias resulta na construção de um repertório conceitualmente amplo, porém, equilibrado. Canções que funcionam como um acumulo natural de tudo aquilo que o grupo tem produzido em quase duas décadas de carreira, mas que ainda reservam algumas surpresas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.