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Crítica

Tkay Maidza

: "Sweet Justice"

Ano: 2023

Selo: 4AD

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Ravyn Lenae e Shygirl

Ouça: Out of Look e Ring-a-Ling

7.5
7.5

Tkay Maidza: “Sweet Justice”

Ano: 2023

Selo: 4AD

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Ravyn Lenae e Shygirl

Ouça: Out of Look e Ring-a-Ling

/ Por: Cleber Facchi 23/11/2023

Ainda que Tkay Maidza esteja longe de parecer uma artista iniciante e acumule uma sequência de bons lançamentos, difícil não pensar em Sweet Justice (2023, 4AD) como o primeiro grande álbum da artista. Depois de estrear em um selo local com o inaugural Tkay (2016), assinar com uma gravadora de médio porte e ser apresentada à uma parcela ainda maior do público com a série de EPs Last Year Was Weird, a cantora e compositora nascida no Zimbábue e naturalizada australiana chega agora com um trabalho em que não apenas consolida uma identidade criativa, como continua a testar os próprios limites em estúdio.

Marcado pela riqueza de estilos, Sweet Justice destaca a capacidade de Maidza em transitar por diferentes propostas criativas sem necessariamente perder a consistência da própria criação. São canções que vão do pop tradicional ao R&B e minucioso diálogo com o rap em um intervalo de poucos minutos. É como uma combinação natural de tudo aquilo que a artista afro-australiana tem incorporado desde o início da década passada, porém, partindo de uma abordagem refinada e estruturalmente aproximada, direcionamento que se reflete na escolha dos timbres, parcial padronização das batidas e uso sempre calculado dos vocais.

Parte desse resultado vem da escolha de Maidza em concentrar quase que integralmente a produção do material nas mãos de um único colaborador, o israelense Dan Farber (Lizzo, Dizzee Rascal). Dessa forma, a artista vai do pop atmosférico de Love and Other Drugs às rimas de WUACV sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra confusa. A própria escolha em faz do álbum uma forma de canalizar as emoções vividas durante o processo de criação do disco funciona como uma importante ferramenta de aproximação entre as faixas. Canções que servem de passagem para um universo particular da cantora.

Evidentemente, esse esforço de Maidza em amarrar todas as canções do disco não interfere na criação de faixas que estreitam laços com diferentes colaboradores e novas propostas criativas. É o caso de Silent Assassin, música que conta com produção assinada por Flume, segue a trilha do material explorado em Palaces (2022), último trabalho de estúdio do produtor, mas que parece perfeitamente encaixada dentro do presente registro. O mesmo se percebe em Out of Luck, um funk futurístico que ainda abre passagem para as vozes das cantoras Lolo Zouaï eAmber Mark, ampliando consideravelmente os limites de Sweet Justice.

Mesmo cercada de colaboradores, sobrevive nas canções assumidas integralmente pela artista o grande encanto do disco. Em Love Again, camadas de sintetizadores e batidas cuidadosamente encaixadas abrem espaço para a inserção das vozes que destacam o lirismo agridoce da cantora. Já em Ghost, composição produzida por Kaytranada, Maidza conduz o ouvinte em direção às pistas. Nada que prepare o ouvinte para o material entregue na pegajosa Ring-A-Ling, faixa que faz lembrar algumas das principais referências apontadas pela afro-australiana, como Santigold e Missy Elliott, porém, preservando a própria identidade.

Como efeito dessa pluralidade de estilos e permanente diálogo com diferentes parceiros criativos, Sweet Justice invariavelmente acaba se estendendo para além do necessário. Exemplo disso fica mais do que evidente quando esbarramos em composições que soam como versões menos interessantes daquilo que a cantora apresenta nos instantes de maior destaque do registro, caso de Won One e Free Throws. Ainda assim, essas pequenas repetições são insuficientes para diminuir o brilho do trabalho que mantém o nível em alta mesmo nos momentos de maior instabilidade, evidenciando assim a potência do som de Maidza.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.