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Ano: 2025

Selo: Joy Boy Records

Gênero: Rock, Shoegaze, Noise Pop

Para quem gosta de: Panorama Local e Asia Menor

Ouça: Zapatillas Rotas e Llévame Donde Sea

8.3
8.3

Todos Mis Amigos Están Tristes: “Carne”

Ano: 2025

Selo: Joy Boy Records

Gênero: Rock, Shoegaze, Noise Pop

Para quem gosta de: Panorama Local e Asia Menor

Ouça: Zapatillas Rotas e Llévame Donde Sea

/ Por: Cleber Facchi 03/12/2025

A visceralidade dos versos em comunhão com o som ruidoso que escapa das guitarras em Zapatillas Rotas diz muito sobre aquilo que o Todos Mis Amigos Están Tristes busca desenvolver em Carne (2025, Joy Boy Records). Estreia do quarteto chileno formado por Antonio Quintana, Baltazar Cueto, Rafael Massa e Ariel Matteoda, o registro de dez faixas não apenas diz a que veio logo nos primeiros minutos, como prepara o terreno para o repertório altamente confessional que trata sobre culpa e reconciliação de maneira brutal.

Não quero ver de novo / Se é a mesma coisa de ontem / Porque eu morri aqui”, confessa Quintana na faixa seguinte, Llévame Donde Sea, composição de vozes berradas que alterna entre a dor e a libertação, sempre destacando a força avassaladora das guitarras que ocupam os mais de sete minutos da canção. É como um intenso exercício criativo, proposta que ganha ainda mais destaque na criação seguinte, Puente Amarillo, música que evoca Dinosaur Jr. e Sonic Youth sem necessariamente corromper a identidade do quarteto.

Esse mesmo olhar curioso para o passado se repete em Zumbido, canção que vai do shoegaze ao grunge, enquanto estabelece nos versos a desorientação emocional causada diante de alguém distante, por vezes inalcançável. Tudo é tão intenso e direto que a moderada Arrebol, vinda logo em sequência, praticamente rompe com a fluidez do trabalho, desacelerando para ampliar os horizontes de possibilidades da banda.

Passado esse momento de maior suavidade, que ainda destaca o saxofone de Massa, Morderé Mis Labios Hasta Sangrar de La Rabia traz de volta o que há de melhor na obra do quarteto: a crueza das emoções. Entre guitarras truculentas e batidas sempre certeiras, vozes berradas tratam sobre uma relação marcada pela dor, abuso emocional e perda de identidade. “Morderei meus lábios até sangrarem / De raiva”, canta o grupo. É somente com a chegada da serena Cadenas, minutos à frente, que somos autorizados a respirar.

Com a chegada de Directo, o quarteto mais uma vez desacelera para, logo em seguida, mergulhar em um oceano de ruídos, versos declamados e instantes de maior contemplação que tendem ao pós-rock. É como um ensaio para o que se revela de forma ainda mais explícita na posterior Colapsó, faixa que alterna entre a calmaria e o caos, como um diálogo menos autoral com a obra de veteranos como Explosions In the Sky.

Entretanto, sempre que o trabalho começa a perder fôlego, o grupo encontra no uso ruidoso dos elementos um precioso elemento de reconexão. Exemplo disso fica bastante evidente em A Veces Como Yo Quisiera Ser. Escolhida para o encerramento do disco, a faixa não apenas reforça o lirismo atormentado da banda, como estabelece na crueza das guitarras um último gesto de entrega sentimental, poética e instrumental.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.