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Crítica

Toro Y Moi

: "Mahal"

Ano: 2022

Selo: Dead Oceans

Gênero: Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Tame Impala e Neon Indian

Ouça: Postman e Déjà Vu

7.6
7.6

Toro Y Moi: “Mahal”

Ano: 2022

Selo: Dead Oceans

Gênero: Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Tame Impala e Neon Indian

Ouça: Postman e Déjà Vu

/ Por: Cleber Facchi 09/05/2022

Sentado em um jipe filipino, com a ponte Golden Gate ao fundo, Chaz Bear parece apenas esperar o ouvinte embarcar para dar início à viagem lisérgica proposta em Mahal (2022, Dead Oceans). Partindo da colorida imagem de capa e do veículo que concede título à obra, o cantor, compositor e produtor norte-americano faz o que sabe de melhor em cada uma das canções que recheiam o primeiro trabalho de estúdio como Toro Y Moi em três anos. São composições que se revelam ao público em uma medida própria de tempo. Um misto de passado e presente, nostalgia e reinterpretação que conduz o desenvolvimento do material.

Livre dos temas dançantes que embalam o registro anterior, Outer Peace (2019), Bear se concentra na produção de um repertório deliciosamente imersivo e lisérgico. Do momento em que dá partida no carro, logo na introdutória The Medium, colaboração Unknown Mortal Orchestra, cada fragmento do disco parece pensado de forma a brincar com a interpretação do ouvinte. São arranjos, efeitos e vozes sempre delirantes, estrutura que aponta para o som produzido entre o final dos anos 1960 e início da década de 1970, porém, partindo de uma abordagem atualizada, típica das criações apresentadas por Toro Y Moi.

Exemplo disso fica bastante evidente na sequência composta por Postman e The Loop. Pouco mais de seis minutos em que o artista passeia em meio a guitarras carregadas de efeitos, batidas e versos alucinantes, estrutura que aponta para o passado e confessa referências, mas em nenhum momento perde traços da identidade autoral do músico, vide as linhas de baixo sempre destacadas e vozes macias, capazes de envolver o ouvinte. É como uma interpretação ainda mais complexa e louca de tudo aquilo que Bear havia testado em obras como Boo Boo (2016), também marcada pelo mesmo direcionamento psicodélico.

Entretanto, muito além da permanente reciclagem de informações e conceitos há muito explorados pelo artista, Bear se permite provar de novas possibilidades dentro de estúdio. São canções que utilizam da essência psicodélica do músico, porém, pontuadas por momentos de maior ruptura e criativa combinação de ritmos. Perfeita representação desse resultado acontece em Goes By So Fast, faixa que vai da psicodelia ao jazz em uma colorida sobreposição de elementos. O mesmo resultado acaba se refletindo mais à frente, em Last Year, canção que transporta o som produzido para o disco para um novo e inusitado território.

Mesmo a relação com os colaboradores, explorada de maneira discreta nos antigos trabalhos, ganha novo tratamento em Mahal. Além de inaugurar o disco com os neozelandeses do Unknown Mortal Orchestra, Bear aproveita para estreitar a relação com os velhos colaboradores da dupla The Mattson 2, em Millennium, e trabalhar em estúdio com a cantora Salami Rose Joe Louis, com quem divide a enevoada Magazine. Nada que prejudique a formação de músicas assumidas integralmente pelo artista, caso de Déjà Vu, composição que faz lembrar o estilo meio cantado, meio declamado das criações de Stephen Malkmus.

Dividido entre o conforto e o desejo em provar de novas direções criativas, Bear garante ao público uma obra equilibrada. São canções que preservam a essência psicodélica que tem sido explorada desde o primeiro trabalho como Toro Y Moi, o etéreo Causers of This (2010), porém, substituindo as ambientações sintéticas pela formação de um repertório cada vez mais orgânico e que valoriza o uso dos instrumentos. Mesmo a construção dos versos, centrada em inquietações vividas durante o período de isolamento, contribui ainda mais para esse resultado, como a passagem para um universo próprio do artista.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.