Image
Crítica

Troye Sivan

: "Something To Give Each Other"

Ano: 2023

Selo: Capitol / EMI

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Charli XCX e Lorde

Ouça: Rush, Still Got It e Honey

8.0
8.0

Troye Sivan: “Something To Give Each Other”

Ano: 2023

Selo: Capitol / EMI

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Charli XCX e Lorde

Ouça: Rush, Still Got It e Honey

/ Por: Cleber Facchi 25/10/2023

O sorriso genuíno estampado na imagem de capa de Something To Give Each Other (2023, Capitol / EMI), terceiro e mais recente trabalho de estúdio de Troye Sivan, sintetiza de forma eficiente tudo aquilo que o sul-africano naturalizado australiano busca desenvolver ao longo do álbum. Longe do repertório soturno que marca o antecessor Bloom (2018), o artista se aventura agora na construção de um registro marcado pela celebração. São composições que passeiam pelas pistas em busca de sexo e detalham as aventuras românticas vividas por Sivan em um exercício criativo tão particular quanto íntimo do próprio ouvinte.

Você faz meu batimento cardíaco acelerar / Meu corpo está em chamas / Eu sinto a agitação / Viciado em seu toque“, confessa em Rush. Escolhida como música de abertura, a faixa não apenas destaca a força das batidas que instantaneamente arremessam o ouvinte para dentro do disco, como sustenta na construção dos versos parte dos temas e desejos que movem o trabalho. É como um delicioso exercício de libertação que ainda serve de passagem para um ambiente perfumado pelo cheiro de poppers, luzes estroboscópicas e pequenos excessos que ampliam tudo aquilo que o cantor havia testado em estúdio no registro anterior.

Exemplo disso pode ser percebido na abordagem pulsante da já conhecida Got Me Started. Enquanto os versos detalham os desejos mais íntimos de Sivan (“Garoto, posso ser honesto? / Sinto falta de usar meu corpo“), batidas cuidadosamente encaixadas se completam pelo sample viral de Shooting Stars, da dupla Bag Raiders, funcionando como um convite irrecusável a se perder pelas pistas de dança. Esse mesmo caráter dançante, porém, partindo de um direcionamento diferente, pode ser percebido em Honey, faixa que destaca a produção caprichada de Oscar Görres e Styalz Fuego, principais colaboradores do artista.

Embora marcado pelo forte caráter dançante, a real beleza de Something To Give Each Other reside na habilidade de Sivan em transitar por entre estilos, desacelerar e fazer dos momentos de doce melancolia peças tão representativas quanto os instantes de maior libertação. O resultado desse processo está na entrega de uma obra essencialmente equilibrada e que destaca a vulnerabilidade do artista durante toda sua formação. “Eu ainda estou mal / Porque você tem o que tem / E eu ainda quero“, desaba em Still Got It, música que partilha do mesmo pop fragilizado que marca as composição de Lorde em Melodrama (2017).

Diverso e consistente na mesma proporção, efeito direto da escolha de Sivan em trabalhar com um time reduzido em estúdio, Something To Give Each Other destaca o domínio criativo e esforço do cantor em brincar com as possibilidades a cada nova composição. Ao mesmo tempo em que se estabelece como um dos nomes mais relevantes do pop atual, o artista continua a testar os limites da própria obra, como em In My Room, parceria com Guitarricadelafuente em que combina elementos de música latina e R&B. Já em Can’t Go Back, Baby, minutos à frente, são batidas e bases reducionistas, íntima de nomes como James Blake, estrutura que se completa pelo uso de trechos de Back, Baby, delicada criação de Jessica Pratt.

Toda essa combinação de estilos não apenas destaca a versatilidade de Sivan e leva o ouvinte a provar de diferentes propostas criativas, como disfarça algumas repetições temáticas bastante presentes ao longo da material. Exemplo disso pode ser percebido em Silly, composição que pouco avança quando próxima de outras canções do registro, sempre centradas em conflitos sentimentais, porém, estabelece no frescor das batidas um componente de renovação. É como um indicativo do controle do artista em relação ao próprio trabalho, prova de que o amadurecimento explícito em Bloom foi apenas o princípio de uma excelente fase.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.