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Crítica

Tui

: "Castto IV"

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, Future Funk, City Pop

Para quem gosta de: CESRV e Pessoas Que Eu Conheço

Ouça: Show Me, Far Away e Sparking Eye

8.2
8.2

Tui: “Castto IV”

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, Future Funk, City Pop

Para quem gosta de: CESRV e Pessoas Que Eu Conheço

Ouça: Show Me, Far Away e Sparking Eye

/ Por: Cleber Facchi 02/03/2021

Nos últimos anos, a cidade de Curitiba, capital do Paraná, se transformou em um dos principais agrupamentos da cultura beatmaker no país. Casa de veteranos como Nave (Emicida) e Laudz (Tropkillaz), o município hoje abriga uma variedade de novos artistas como HupaloChediak e Rafa Inki. São produtores que transitam por diferentes campos da música eletrônica, proposta que vai do trap ao R&B, da lo-fi beat ao funk de forma sempre inventiva. É justamente imerso nesse cenário tão prolífico que Arthur Sugamosto, o Tui, encontrou as bases para a produção do primeiro álbum de estúdio da carreira, Castto IV (2021, Independente).

Parcialmente distante do material entregue pelo produtor em algumas de suas principais criações, como Você Quer e Um Cinco Sete, inclinadas ao chill baile, o presente álbum estabelece na força das batidas e curioso olhar para o passado o estímulo para parte expressiva do repertório. São canções que parecem alcançar um ponto de equilíbrio entre o city pop e a sonoridade revisionista incorporada em obras como Discovery (2001), do Daft Punk, conceito que embala a experiência do ouvinte tão logo o trabalho tem início, em Sky High, e segue até a música de encerramento, Lucky Girl.

Feito para ser absorvido do primeiro ao último instante, sem pausas, Castto IV utiliza da permanente sobreposição dos elementos para capturar a atenção do ouvinte. São batidas rápidas que se espalham em meio a guitarras funkeadas, metais e teclados, estrutura que se abre para a chegada de personagens icônicos da produção japonesa entre o final dos anos 1970 e início da década de 1980. Cantoras como Mai Yamane, conhecida pela trilha sonora de Cowboy Bebop, Toshiki Kadomatsu, Junko Ohashi, Anri e um minucioso conjunto de vozes que se transformam na principal ferramenta de trabalho de Tui.

Exemplo disso pode ser percebido na sequência composta por Far Away e La La La. São pouco mais de sete minutos em que o produtor curitibano utiliza da força das batidas para impulsionar o encaixe das vozes de forma deliciosamente dançante. Um misto de passado e presente, estrutura que incorpora a mesma nostalgia não vivenciada de outros exemplares da vaporwave, porém, partindo de um novo direcionamento estético, proposta que se repete em outros momentos ao longo da obra, como em My Heart e na detalhista Sparking Eye. Canções dotadas de um frescor raro, como se extraídas de alguma discotecagem em um fim de tarde ensolarado.

Se por um lado essa constante euforia explícita nas batidas garante ao disco um caráter homogêneo, por outro, a ausência de possíveis respiros e faixas contrastantes torna a audição de Castto IV parcialmente exaustiva. Salve exceções, como a introdução atmosférica de Show Me, Tui parte sempre de uma mesma arquitetura criativa, o que acaba confundindo o ouvinte em diversos momentos ao longo da obra. Entretanto, a escolha do material utilizado como base pelo produtor é tão eficaz que parece difícil não se deixar conduzir pelo trabalho. Fragmentos instrumentais, batidas e vozes que se entrelaçam em uma linguagem própria do artista curitibano.

Nesse sentido, Castto IV assume todos os riscos de um típico registro de estreia. São canções que confessam algumas das principais referências criativas de Sugamosto, costuram diferentes décadas e tendências, porém, a todo momento retornam a um território próprio do produtor paranaense. A própria imagem de capa do álbum, como se saída de algum jogo de Master System nos anos 1980, funciona como uma representação visual desse universo particular de Tui. Um precioso cruzamento de informações que passa pela trilha sonora de animes, diferentes exemplares da produção eletrônica e referências estéticas, mas que em nenhum momento deixa de cumprir sua principal função: fazer o ouvinte dançar.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.