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Crítica

Tui

: "Casto IX"

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, Future Funk, City Pop

Para quem gosta de: VHOOR e Carlos do Complexo

Ouça: Amber, Sing For You e I'm Fine

7.5
7.5

Tui: “Castto IX”

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, Future Funk, City Pop

Para quem gosta de: VHOOR e Carlos do Complexo

Ouça: Amber, Sing For You e I'm Fine

/ Por: Cleber Facchi 03/02/2023

Mesmo trancados em casa e desesperançosos por conta da pandemia de Covid-19, Arthur Sugamosto, o Tui, deu bons motivos para todo mundo dançar ao som de Castto IV (2021). Partindo de um exercício de atualização, o produtor paranaense decidiu resgatar composições esquecidas do city pop, estilo que movimentou o cenário musical japonês entre os anos 1970 e 1980, e transportar esse repertório para o presente. O resultado desse processo está na entrega de uma obra tão referencial e nostálgica, quanto marcada pelo frescor, estrutura que volta a se repetir com a chegada de Castto IX (2023, Independente).

Embora livre da sensação de surpresa que parecia orientar a experiência do ouvinte no registro anterior, o que diminui consideravelmente o impacto do presente disco, Castto IX em nenhum momento deixa de impressionar. Com Lips como música de abertura, o produtor curitibano apresenta parte dos elementos que serão incorporados ao longo da obra. Inaugurada em meio a sintetizadores e bases atmosféricas, a faixa logo aponta para as pistas. São vozes empoeiradas que se espalham em meio a batidas frenéticas e metais, estrutura que segue de onde o artista parou há dois anos, porém, de maneira totalmente festiva.

Outro elemento bastante característico diz respeito à estrutura e andamento rítmico dado ao trabalho. Mesmo marcado pela força das batidas durante toda a sua execução, Castto IX chama a atenção pela forma como Tui lida com os instantes. Exemplo disso fica bastante evidente em Amber, quarta faixa do disco. São pouco mais de cinco minutos em que o produtor parece brincar com a construção de uma composição que encolhe e cresce a todo momento, assume percursos pouco usuais e valoriza o uso da instrumentação extraída do material original. Um permanente ziguezaguear de ideias que nunca perde seu equilíbrio.

O mais curioso talvez seja perceber a forma como o produtor estabelece pequenos respiros criativos que transportam o registro para um território completamente Inesperado. Perfeita representação desse resultado acontece em Sing For You. Contida quando próxima do material entregue nos minutos iniciais do disco, a canção destaca o caráter agridoce dos versos e delicadamente conduz o ouvinte para o passado. É como se Tui posicionasse as batidas em segundo plano para reforçar os sentimentos expressos nos versos, direcionamento que acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra, como em Friday Night.

Entretanto, mesmo nesse precioso cruzamento de informações e composições que ampliam os limites da obra, ninguém está preparado para o que produtor reserva para o fechamento do disco. Enquanto os segundos iniciais de I’m fine!!! バイバイ apontam para o restante do material, Tui potencializa a canção com uma soma de batidas que rompem com o ritmo frenético do álbum para mergulhar no funk carioca. Embora não seja necessariamente uma novidade para quem acompanha o trabalho do artista, vide faixas como Você Quer e Um Cinco Sete, é a primeira vez que o curitibano utiliza da proposta na série Castto.

Com essa mudança de direção nos instantes finais do trabalho, o artista deixa o caminho aberto para os futuros lançamentos sem necessariamente comprometer o que já havia estabelecido no registro anterior. Mais do que isso, é impressionante a capacidade do produtor em seguir se renovando mesmo dentro de um território há muito explorado por diferentes realizadores. Do momento em que tem início, em Lips, passando pela construção de faixas como Sing For You e a já citada composição de encerramento, Tui cria um universo particular que se apresenta de forma sempre convidativa para todo e qualquer ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.