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Crítica

Tunico

: "Tunico"

Ano: 2023

Selo: Far Out Recordings

Gênero: Jazz, Samba

Para quem gosta de: Fabiano do Nascimento

Ouça: Galope, Decolagem e O Que Virá

8.0
8.0

Tunico: “Tunico”

Ano: 2023

Selo: Far Out Recordings

Gênero: Jazz, Samba

Para quem gosta de: Fabiano do Nascimento

Ouça: Galope, Decolagem e O Que Virá

/ Por: Cleber Facchi 31/03/2023

Parte da efervescente cena carioca que tem revelado alguns dos exemplares mais representativos do novo jazz brasileiro, como A Pegada Agora É Essa (2021), de Antônio Neves, e toda a sequência de trabalhos apresentados por Fabiano do Nascimento, Antonio Secchin, o Tunico, esbanja maturidade no primeiro álbum de estúdio da carreira. Autointitulado, o registro inspirado pelo isolamento do músico e sua família durante o período pandêmico diz a que veio logo na introdutória Galope. Pouco mais de sete minutos em que Sacchin honra o longo histórico de violonistas brasileiros, abre espaço para as vozes instrumentais de Katarina Assef e utiliza da sobreposição dos arranjos em uma abordagem tão nostálgica quanto atualizada.

São composições marcadas por um precioso e sempre necessário senso de atualização, porém, íntimas de diferentes exemplares da nossa música. Um misto de passado e presente que vez ou outra esbarra nas criações de nomes importantes dos anos 1970, como Banda Black Rio, Trio Mocotó e Quarteto Novo, direcionamento reforçado no caráter abrasivo de Sambola. Do fundo cênico, ambientado no cenário movimentado de um bar, passando pela percussão de Boka Reis aos teclados de Chico Lira e metais, cada fragmento da canção parece transportar o ouvinte para um dia de sol em um feriado no Rio de Janeiro.

Nos poucos momentos em que desacelera, Tunico preserva o refinamento dos arranjos, porém, utiliza de uma abordagem diferenciada, ampliando criativamente o próprio campo de atuação. Exemplo disso fica bem representado com a chegada de Decolagem. Longe dos temas urbanos do restante da obra, a faixa concede ao disco um caráter quase bucólico, como um passeio pelo ambiente esverdeado que estampa a própria imagem de capa, uma pintura feito pelo pai do músico, o artista plástico Guilherme Secchin (1959 – 2016). São delicadas camadas instrumentais que parecem pensadas para envolver e confortar o ouvinte.

Essa mesma sutileza no processo de composição fica ainda mais evidente com a chegada de Saudade do Sucupira. Entre ecos de Baden Powell, a faixa rompe momentaneamente com o restante da obra para se aventurar de forma minuciosa pelo sertão brasileiro. É como um lento desvendar de informações e costuras instrumentais, estrutura que vai dos teclados misteriosos de Chico Lira à sutil combinação de ritmos que corre ao fundo da canção. Mesmo quando entram as guitarras de Haroldo Eiras, tudo parece trabalhado em uma medida própria de tempo, tratamento que se reflete até os minutos finais da criação.

Com a chegada de Solar das Hortênsias, quinta faixa do disco, Tunico mantém firme o caráter jazzístico presente no restante do trabalho, porém, assim como em Saudade do Sucupira, se permite provar de novas possibilidades e diferentes direções criativas dentro de estúdio. Do flerte com o maracatu, logo nos minutos iniciais da canção, passando pelo uso destacado das guitarras ao saxofone que funciona como um canto fluido, não são poucos os momentos em que o artista e seus colaboradores parecem testar os próprios limites. Frações instrumentais que vão de um canto a outro sem necessariamente perder a consistência.

Tamanho esmero no processo de criação acaba se refletindo até os momentos finais do trabalho. Para o encerramento do material, em O Que Virá, Tunico regressa ao mesmo ambiente esverdeado de Saudade do Sucupira, porém, partindo de uma abordagem totalmente reducionista. Longe dos demais parceiros de estúdio, o multi-instrumentista desfila solitário enquanto se espalha em uma cama de violões e bases acústicas que se completam pelo saxofone entristecido. Instantes em que o músico carioca concede o fechamento ideal ao disco na mesma medida em que deixa o caminho aberto para os futuros lançamentos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.