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Crítica

Ty Segall

: "Harmonizer"

Ano: 2021

Selo: Drag City

Gênero: Glam Rock, Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Thee Oh Sees e White Fence

Ouça: Whisper, Waxman e Feel Good

7.8
7.8

Ty Segall: “Harmonizer”

Ano: 2021

Selo: Drag City

Gênero: Glam Rock, Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Thee Oh Sees e White Fence

Ouça: Whisper, Waxman e Feel Good

/ Por: Cleber Facchi 17/08/2021

Conhecido pelo ritmo intenso de produção e extensa discografia, Ty Segall passou os últimos dois anos em silêncio. Passado o lançamento de First Taste (2019), o músico norte-americano aproveitou do período de isolamento social para se trancar em estúdio, refletir sobre a própria carreira e buscar por novas possibilidades. O resultado desse processo de transformação fica bastante evidente nas canções de Harmonizer (2021, Drag City). Mais recente criação do artista californiano, o registro co-produzido em parceria com Cooper Crain (Circuit Des Yeux, Purple Mountains), preserva a essência do antigos trabalhos de Segall, porém, se permite provar de diferentes abordagens e temáticas.

E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos da obra. Inaugurado em meio a batidas eletrônicas e sintetizadores atmosféricos, conceito reforçado pela introdutória Learning, Segall parece trilhar um caminho completamente distinto em relação aos primeiros registros autorais, sempre marcados pela crueza dos elementos. São canções regidas pelo maior pelo maior refinamento do compositor estadunidense, direcionamento que vai do uso das guitarras ao tratamento dado aos vocais, como em Whisper, composição que vai de encontro ao glam rock de veteranos como T. Rex e Queen, porém, preservando a identidade e temas instrumentais que tem sido incorporados nos últimos anos, vide o acessível Freedom’s Goblin (2018).

A própria faixa-título do disco, com suas camadas de guitarras, sintetizadores coloridos e falsetes, evidencia a capacidade de Segall em dialogar com uma parcela ainda maior do público, tratamento reforçado pelo romantismo impresso na letra da canção. “Eu percebo que nunca ouvi antes / Não precisamos de um tom para fazer o acorde perfeito / Eu quero ouvir nossas línguas fazendo atrito / Eu quero falar sobre nossas canções e cantá-las“, confessa. É como se o músico resgatasse tudo aquilo que tem produzido em mais de uma década de carreira, porém, partindo de uma abordagem cada vez mais acessível, proposta que se reflete com naturalidade até a derradeira Changing Contours.

Entretanto, muito se engana quem pensa que essa ruptura conceitual tenha distanciado Segall da crueza explícita nos antigos trabalhos. Exemplo disso acontece em Erased. São pouco mais de quatro minutos em que o músico investe na construção de guitarras carregadas de efeitos, ruídos e quebras rítmicas, bagunçando a experiência do ouvinte. A própria Feel Good, guiada pelas vozes de Denée Segall, esposa do artista, traz de volta parte da urgência e sujeira explícita em obras como Melted (2010) e Goodbye Bread (2011). Um misto de passado e presente, resgate e reformulação que torna a experiência de ouvir o registro sempre satisfatória, indicativo do completo domínio do músico.

Vem justamente desse esforço em colidir diferentes propostas criativas o estímulo para algumas das principais composições apresentadas ao longo do registro. É o caso de Waxman. Enquanto a base ruidosa da canção traz de volta a essência dos antigos trabalhos do músico, como o barulhento Slaughterhouse (2012), Segall sustenta nos versos e melodias aprazíveis uma natural extensão de tudo aquilo que busca desenvolver com o presente disco. Essa mesma abordagem, porém, partindo de um direcionamento essencialmente enérgico, acaba se refletindo na também confessional Pictures. São camadas de guitarras, texturas e ondas de distorção que arremessam o ouvinte de um canto para o outro do álbum, como um turbulento e sempre mutável exercício de criação.

Dessa forma, o que tinha tudo para ser encardo uma previsível reciclagem de ideias acaba se revelando como uma das obras mais interessantes do artista. Do momento em que tem início, na já citada Learning, até alcançar a música de encerramento, perceba como o guitarrista muda de direção e utiliza de diferentes conceitos estéticos sem necessariamente fazer disso o estímulo para um registro confuso. São canções capazes de dialogar com o ouvinte em uma rápida passagem pelo álbum, mas que parecem maiores e mais complexas a cada nova audição, revelando um minucioso pano de fundo instrumental e poético que concentra o que há de melhor na obra de Segall.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.