Image
Crítica

Ty Segall

: "Three Bells"

Ano: 2024

Selo: Drag City

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Thee Oh Sees e White Fence

Ouça: Void, My Best Friend e My Room

7.6
7.6

Ty Segall: “Three Bells”

Ano: 2024

Selo: Drag City

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Thee Oh Sees e White Fence

Ouça: Void, My Best Friend e My Room

/ Por: Cleber Facchi 08/02/2024

O sempre excessivo volume de lançamentos envolvendo Ty Segall em nada parece prejudicar a potência criativa do cantor e compositor norte-americano. Em constante produção desde a segunda metade dos anos 2000, o instrumentista californiano volta a impressionar com a chegada do barulhento Three Bells (2024, Drag City), trabalho que não apenas rompe com os temas acústicos incorporados ao antecessor Hello, Hi (2022), como mais uma vez estreita laços com o rock produzido na década de 1970 e confessa algumas das principais referências criativas do músico sem necessariamente perder a própria identidade.

Parte desse resultado vem da escolha do artista em mais uma vez monopolizar o processo de gravação do material, assumir quase que integralmente os instrumentos e inserir traços bastante significativos do tipo de som que tem sido explorado desde os primeiros registros autorais. Entretanto, assim como nos discos anteriores, Segall não está só. Além da coprodução de Cooper Crain, com quem tem colaborado em estúdio desde Harmonizer (2021), o músico abre passagem para uma série de colaboradores de grande relevância para a entrega da obra, como o baterista Charles Moothart e os guitarristas Mikal Cronin e Emmett Kelly.

O resultado desse processo está na entrega de um trabalho que segue uma série de conceitos bastante característicos da obra de Segall, como as harmonias de vozes em contraste com as guitarras ruidosas, porém, partindo de uma abordagem ainda mais intensa e musicalmente bem resolvida. Deliciosamente extensa, Void, de quase sete minutos, funciona como uma boa representação desse resultado. Com um pé na psicodelia, a faixa segue a trilha dos antigos registros do instrumentista e ainda acrescenta uma dose extra de delírio, produto da base carregada de efeitos e acréscimos que ampliam os limites do material.

Mais do que um ponto de destaque dentro do disco, a composição marcada pela fluidez das guitarras e uso complementar dos teclados é apenas uma das diferentes criações que logo capturam a atenção do ouvinte. Em My Best Friend, minutos à frente, Segall seduz ao resgatar a essência melódica de artistas como The Beatles, porém, acrescentando uma dose extra de guitarras sempre carregadas de efeitos. O mesmo aceno para o passado pode ser percebido em My Room, canção que destaca a versatilidade do instrumentista, indo de um canto a outro com a mesma ferocidade incorporada em registros como Slaughterhouse (2012).

Livre de possíveis concessões, Segall faz de cada composição um objeto de destaque. São músicas que já começam grandiosas, porém, ganham novas tonalidade à medida que o compositor e seus parceiros de estúdio avançam. Exemplo disso fica bastante evidente no experimentalismo que invade Eggman, com suas guitarras que mudam de direção a todo instante, e na própria canção de abertura do trabalho, The Bell, criação que parece seguir a trilha acústica de Hello, Hi, mas logo muda de direção, indicando o contínuo processo de transformação que reverbera até a chegada de What Can We Do, no fechamento do disco.

Naturalmente, essa constante mudança de percurso no decorrer do material tem lá seus riscos, vide a entrega de músicas como Repetition e To You, que simplesmente não levam a lugar algum. Esse volume excessivo de composições é outro componente prejudicial para o desenvolvimento da obra. Diferente dos dois trabalhos anteriores, que se resolviam em suas dez canções, Three Bells se estendendo para além do necessário. São pouco mais de 60 minutos que evidenciam pequenos desgastes por parte do artista, diminuindo o impacto de um registro que tinha tudo para ser um dos grandes lançamentos de Segall.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.