Ano: 2021
Selo: Columbia
Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B
Para quem gosta de: Frank Ocean e Earl Sweatshirt
Ouça: Sweet, Lumberjack e WusYaName
Ano: 2021
Selo: Columbia
Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B
Para quem gosta de: Frank Ocean e Earl Sweatshirt
Ouça: Sweet, Lumberjack e WusYaName
Desde que alcançou a maturidade artística, com o lançamento do elogiado Flower Boy (2017), Tyler, The Creator tem feito de cada novo trabalho de estúdio um verdadeiro espetáculo. Muito além do tratamento dado às rimas e batidas, o artista que estreou no final dos anos 2000, como parte do coletivo Odd Future, se concentra na produção de um repertório marcado pelo evidente refinamento estético, argumentos pouco usuais e precioso cruzamento de informações. São canções que partem de uma base tradicional, porém, crescem na permanente fragmentação de estilos, conceito bastante evidente durante a produção de IGOR (2019), vencedor na categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy de 2020, mas que ganha ainda mais destaque em Call Me If You Get Lost (2021, Columbia).
Ponto de equilíbrio entre o estranhamento proposto nos primeiros registros autorais – Goblin (2011), Wolf (2013) e Cherry Bomb (2015) –, e o envelopamento melódico adotado em Flower Boy, o trabalho de essência caótica transita por entre ritmos, rimas e colaboradores sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra confusa. Parte desse resultado vem do esforço claro do rapper, representado pelo pseudônimo de Tyler Baudelaire, referência ao poeta francês Charles Baudelaire (1821 – 1867) e uma de suas inúmeras personalidades, em homenagear algumas das grandes mixtapes produzidas nos anos 2000. Trabalhos apresentados por veteranos como Pharrell Williams, Clipse e principalmente Lil Wayne, na série intitulada Dedication, que se estende até os dias de hoje.
Não por acaso, Tyler convidou DJ Drama, parceiro de Wayne em alguns dos registros mais significativos da série, para assumir parte dos versos e trabalhar ao lado dele nas canções apresentadas em Call Me If You Get Lost. O resultado desse processo está na entrega de um registro que transita por entre décadas de referências de forma sempre curiosa. São atravessamentos rítmicos e conceituais que tingem com incerteza a experiência do ouvinte durante toda a execução da obra. E isso fica bastante evidente no que talvez seja uma das principais faixas do disco, Sweet / I Thought You Wanted to Dance. Pouco menos de dez minutos em que o rapper vai do neo-soul ao reggae em uma criativa sobreposição de elementos que se conectam diretamente à construção dos versos.
Uma vez imerso nesse cenário marcado pelas possibilidades, Tyler se concentra na entrega de músicas que partem de conflitos pessoais, mas que em nenhum momento deixam de dialogar com o ouvinte. E isso fica bastante evidente na dobradinha composta por Wusyaname, parceria com YoungBoy Never Broke Again, DJ Drama e Ty Dolla $ign, e Lumberjack, duas das primeiras faixas a serem apresentadas ao público. São pouco mais de quatro minutos em que o rapper californiano se aprofunda em questões sentimentais, rima sobre as próprias conquistas e evidencia a busca por novas direções criativas, tratamento que se reflete até a música de encerramento do álbum, Safari, com suas batidas e versos que se conectam de forma cíclica à introdutória Sir Baudelaire.
É justamente essa consistência no processo de criação que torna a experiência de ouvir Call Me If You Get Lost tão satisfatória. Mesmo marcado pela criativa colisão de ideias, batidas, fragmentos instrumentais e vozes, Tyler sabe exatamente que direção seguir dentro de estúdio. E esse esmero transparece não apenas na montagem do disco, mas no tratamento dado às rimas. Exemplo disso acontece em Manifesto, música em que reflete sobre o próprio processo de amadurecimento, críticas recebidas no início da carreira e a frequente cobrança como artista negro. “Internet trazendo letras antigas, como eu escondo essa merda / Qual é o seu endereço, eu provavelmente poderia te mandar uma cópia / Fui cancelado antes do cancelamento, foi com os dedos do Twitter“, relembra.
Dentro desse território particular, ainda que essencialmente amplo, Tyler estabelece pequenas brechas que se abrem para a chegada de diferentes colaboradores. São parceiros de longa data, como Domo Genesis, na já citada Manifesto, e Frank Ocean, em Lemonhead, além de contribuições pontuais, caso de Jamie xx, na co-produção de Rise, e a própria mãe, Louisa Whitman, no interlúdio de Momma Talk. Um imenso labirinto conceitual de formas, ritmos e até mesmo imagens, como na série de vídeos esteticamente inspirados pela obra de Wes Anderson que acompanham o trabalho. Instantes em que o rapper traz de volta tudo aquilo que tem sido produzido desde a estreia em carreira solo, há mais de uma década, porém, partindo de um envelopamento completamente novo.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.