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Crítica

Urias

: "Fúria"

Ano: 2022

Selo: Mataderos

Gênero: Pop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Tássia Reis e Linn da Quebrada

Ouça: Foi Mal, Racha e Cadela

7.6
7.6

Urias: “Fúria”

Ano: 2022

Selo: Mataderos

Gênero: Pop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Tássia Reis e Linn da Quebrada

Ouça: Foi Mal, Racha e Cadela

/ Por: Cleber Facchi 18/01/2022

Os sentimentos movem as composições de Urias em Fúria (2022, Mataderos). Primeiro trabalho de estúdio da cantora e compositora mineira, o registro que se divide entre o canto e a rima potencializa de maneira natural tudo aquilo que tem sido explorado desde o homônimo EP entregue há três anos. São canções que encolhem e crescem a todo instante, transitando por entre estilos e temáticas de forma sempre provocativa, forte. Uma intensa combinação de elementos que vai da construção das letras ao minucioso encaixe das batidas e fotografia de capa, bem representada pela imagem de um touro domado pela própria artista.

Dou passos sólidos na escuridão / Faro aguçado, uma faca na mão / Eu, eu, eu quero tudo, eu quero agora“, dispara logo nos primeiros minutos do disco, na rima crua de Pode Mandar, música que sintetiza parte das experiências exploradas até a canção de encerramento do registro, Tanto Faz. São criações autobiográficas que falam sobre desafios, medos e conquistas vividas pela artista de Uberlândia, porém, de maneira sóbria, estreitando a relação com o ouvinte mesmo nos momentos mais pessoais do trabalho. “Perto do que eu mereço, o que eu peço não é nada / Depois de sofrer essa violência organizada“, completa minutos à frente.

Vem justamente desse lirismo confessional e capacidade em dialogar com o público de maneira sensível o estímulo para algumas das principais composições que abastecem o trabalho. É o caso da atmosférica Explícito. Completa pela participação do cantor e compositor brasiliense Hodari, colaborador em outras faixas do registro, a canção ganha forma em uma medida própria de tempo, sem pressa, tratamento que vai do encaixe das batidas, sempre minuciosas, ao refinamento dado aos versos. “Vem fazer barulho, hoje não tem problema / Sem frescura, eu tô no seu esquema / Pagode na caixa, só esperando você“, provoca.

Nada que se compare ao material entregue em Foi Mal. Originalmente apresentada no último ano, a faixa que evoca Rihanna na releitura de Same Ol’ Mistakes, do Tame Impala, evidencia o que há de mais honesto nas canções de Urias. “Tentando o meu melhor eu te mostrei o pior de mim / Chegamos nesse fim / Enfim, foi mal“, canta em meio a melodias empoeiradas que destacam a produção de Zebu (teclados), Maffalda (bateria) e Gorky (guitarra), parceiros durante toda a execução do trabalho. Um precioso exercício criativo que volta a se repetir na derradeira Tanto Faz, também guiada pela melancolia dos arranjos e versos.

Claro que essa busca por um repertório intimista não interfere na produção de faixas mais expansivas, sempre marcadas pela potência das letras. Perfeita representação desse resultado acontece em Cadela. São pouco mais de dois minutos em que Urias amplia parte dos temas incorporados na já citada Pode Mandar. “Já deu pra entender que eu sou uma mina cara / Vai ter que admitir / Que até seu rapper favorito não para de me ouvir“, rima. Mesmo músicas previamente apresentadas, como Racha, ganham novo significado quando observadas dentro do disco, contrastando com os momentos de maior vulnerabilidade de Fúria.

O resultado desse processo está na montagem de uma obra essencialmente dinâmica e plural. É como se Urias, longe de garantir possíveis respostas, fizesse de cada composição um precioso exercício criativo, testando os próprios limites e possibilidades dentro de estúdio. Pena que muitas dessas faixas, como Foi Mal, Cadela e Racha, já são velhas conhecidas do público, rompendo com qualquer traço de ineditismo esperado de um registro do gênero. Entretanto, uma vez organizadas dentro da estrutura lógica de um disco, difícil não se deixar conduzir pelo material apresentado pela artista mineira. Canções que vão da euforia ao recolhimento de forma sempre sensível, evidenciando o domínio criativo e entrega da cantora.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.