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Crítica

Urias

: "Her Mind"

Ano: 2023

Selo: Mataderos

Gênero: Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: Pabllo Vittar e Arca

Ouça: Cuntelectual e Blossom

6.5
6.5

Urias: “Her Mind”

Ano: 2023

Selo: Mataderos

Gênero: Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: Pabllo Vittar e Arca

Ouça: Cuntelectual e Blossom

/ Por: Cleber Facchi 26/06/2023

Uma das coisas mais fascinantes de Fúria (2022), primeiro álbum de Urias, talvez seja a capacidade da cantora e compositora em transitar por entre estilos sem necessariamente fazer disso o estímulo para um registro confuso ou mesmo capaz de corromper a própria identidade criativa. Em um intervalo de poucos minutos, a artista vai do som anfetaminado de Racha ao pop tameimpalesco de Foi Mal em uma conjunção de elementos que parecem jogar com a interpretação e sentimentos do ouvinte. Um precioso exercício de apresentação, como um indicativo claro da completa versatilidade da mineira dentro e fora de estúdio.

Segundo e mais recente trabalho de inéditas da artista, Her Mind (2023, Mataderos) evidencia o domínio criativo e esforço de Urias em ampliar o próprio repertório, porém, rompe com a pluralidade de ideias do antecessor em prol de um material cada vez mais homogêneo. Como indicado logo nos minutos iniciais do disco, em Crack The Code, a artista e seu principal parceiro criativo, o produtor Maffalda, da Brabo Music, se aventuram na construção de composições que estreitam a relação com as pistas, utilizam de elementos típicos do deconstructed club e minimizam a formação dos versos em uma abordagem puramente rítmica.

Exemplo disso fica bastante evidente em toda a primeira metade do álbum. Em Danger, por exemplo, são as batidas metálicas e sintetizadores retorcidos que se completam pelo uso fragmentado das vozes e versos bilíngues. Essa mesma interpretação, porém, partindo de uma abordagem parcialmente límpida pode ser percebida em Ultimate One, música que vai de encontro ao mesmo território criativo explorado em Nymph (2022), estreia de Shygirl. É como um permanente atravessamento de informações, ritmos e componente dissonantes que concedem movimento ao disco, orientando de maneira inquieta a experiência do ouvinte.

O problema é que muitas dessas faixas ecoam como interpretações pobres daquilo que outros artistas têm produzido de forma ainda mais detalhista em seus trabalhos recentes. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida em So Dumb, música que busca emular a estética de Arca incorporada na fase KiCk, flerta com elementos de reggaeton, porém, parece incapaz de alcançar o mesmo resultado. A própria decisão de Urias em limitar o uso dos versos em português para para abraçar o inglês e o espanhol contribui ainda mais com esse resultado, sufocando parte da originalidade explícita no registro anterior.

Coincidentemente ou não, algumas das canções mais interessantes de Her Mind são justamente as que destacam os versos em português ou incorporam elementos da música brasileira em uma abordagem bastante característica. É o caso de Blossom e Cuntelectual. Enquanto a primeira, composta em parceria com Alice Caymmi e Number Teddie, desacelera e reflete o lado contemplativo da artista (“Nada me impede de crescer / E quando a chuva me castigar / Ela vai transformar“), com a segunda, Urias reforça a atmosfera dançante do disco, porém, estabelece nos diálogos com o funk um componente de renovação.

Embora pontuado por momentos de maior grandeza e canções que parecem pensadas para capturar a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição, Her Mind é um trabalho que sofre pela ausência de novidade. Além da forte similaridade com outros registros do gênero, oito das 13 canções que integram o disco foram previamente apresentadas pela cantora em uma sequência de EPS, o que priva o ouvinte da sensação de ineditismo e impacto esperado depois de uma obra tão relevante quanto Fúria. São pequenos desacertos que limitam a força de uma artista que já demonstrou ter muito a oferecer em suas criações.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.