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Crítica

Vagabon

: "Sorry I Haven't Called"

Ano: 2023

Selo: Nonesuch

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Georgia e Miya Folick

Ouça: Lexicon e Do Your Worst

7.5
7.5

Vagabon: “Sorry I Haven’t Called”

Ano: 2023

Selo: Nonesuch

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Georgia e Miya Folick

Ouça: Lexicon e Do Your Worst

/ Por: Cleber Facchi 03/10/2023

Sorry I Haven’t Called (2023, Nonesuch) é uma obra diferente de tudo aquilo que Laetitia Tamko já havia apresentado como Vagabon. Com produção assinada em parceria com Rostam Batmanglij (Carly Rae Jepsen, HAIM), o sucessor do homônimo álbum entregue há quatro anos destaca o esforço da artista camaronesa em dialogar com uma sonoridade cada vez mais acessível, flertando com as pistas, porém, preservando o forte aspecto sentimental que tem sido incorporado desde o introdutório Infinite Worlds (2017), registro que serviu para apresentar o lirismo confessional que marca as composições de Tamko.

Embora amplie o campo de atuação da artista, Sorry I Haven’t Called é uma obra que faz essa transição de forma gradual. Com Can I Talk My Shit? como música de abertura, Tamko e Batmanglij apresentam parte dos elementos que serão incorporado ao longo do registro. Estão lá as batidas eletrônicas, a voz tratada como um instrumento complementar e o uso dos sintetizadores que ora preenchem as bases da canção, ora assumem uma posição de destaque. Pouco mais de três minutos em que a dupla lida com o uso de pequenos acréscimos, combinando melodias e componentes rítmicos de forma deliciosamente acessível.

Com parte dos elementos apresentados logo nos minutos iniciais, Tamko brinca com as possibilidades a cada nova composição. Em Lexicon, por exemplo, enquanto os versos revivem memórias de um antigo relacionamento (“Leve-nos de volta a esse momento / Eu amei como era estar com você“), guitarras marcadas pelo suíngue se completam pela bateria que aponta para os temas dançantes da década de 1970. Nada que impossibilite a construção de faixas capazes de dialogar com o presente, como em Do Your Worst, música em que partilha da mesma fluidez e estrutura explorada por nomes como PinkPantheress.

Interessante notar que mesmo pontuado por momentos de maior transformação, Sorry I Haven’t Called em nenhum momento rompe totalmente com os antigos trabalhos da cantora. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida em Carpenter. Naturalmente íntima de tudo aquilo que Tamko havia testado no disco anterior, a faixa não apenas traz de volta a relação da artista com os ritmos e elementos da cultura africana, como potencializa esse resultado. Esse mesmo direcionamento volta a se repetir em Nothing to Lose, composição em que atualiza a base percussiva a partir de uma abordagem puramente eletrônica.

O problema é que algumas das canções parecem ficar no meio do caminho, como ideias incompletas. É o caso de Autobahn, composição que avança em uma medida própria de tempo, se arrastando em meio a sintetizadores reducionistas, e Made Out with Your Best Friend, música que soa como uma versão menos impactante do material entregue nos minutos iniciais. Já outras, como It’s a Crisis, destacam a produção de Batmanglij, porém, de forma negativa, soando como uma repetição das ideias incorporadas durante o desenvolvimento do último trabalho do HAIM, Women in Music Pt. III (2020), em que esteve envolvido.

Ainda assim, prevalece a riqueza de detalhes e boas composições que levam o trabalho de Tamko para um território completamente transformado. Da força das batidas que ganham forma em You Know How, soando como uma canção perdida de Fred Again, passando pelo lirismo melancólico de Anti-Fuck, música que destaca o uso das guitarras em um claro diálogo com os primeiros registros de Vagabon, sobram momentos em que a musicista, sempre em colaboração com Batmanglij, busca se desafiar criativamente, proposta que naturalmente faz de Sorry I Haven’t Called um novo e precioso capítulo na carreira da artista camaronesa.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.