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Críticas

Vovô Bebê

: "Briga de Família"

Ano: 2020

Selo: Risco

Gênero: Experimental, Rock, Samba

Para quem gosta de: Ana Frango Elétrico, Irmão Victor e Boogarins

Ouça: Êxodo e Cancioneiro Fitness Espiritual

7.8
7.8

Crítica: Vovô Bebê: “Briga de Família”

Ano: 2020

Selo: Risco

Gênero: Experimental, Rock, Samba

Para quem gosta de: Ana Frango Elétrico, Irmão Victor e Boogarins

Ouça: Êxodo e Cancioneiro Fitness Espiritual

/ Por: Cleber Facchi 18/02/2020

Briga de Família. O título escolhido por Pedro Dias Carneiro para o novo álbum de estúdio como Vovô Bebê não poderia ter sido mais adequado. Do momento em que tem início, na autointitulada música de abertura, até alcançar a derradeira Médios 30, cada fragmento do registro encontra na criativa desconstrução dos elementos um importante componente para o fortalecimento da obra. São ideias que se entrelaçam de forma instável, torta, estrutura anteriormente testada nos dois primeiros trabalhos de inéditas do artista — Vovô Bebê (2015) e Coração Cabeção (2017) —, mas que ganha ainda mais destaque no presente disco.

Parte desse direcionamento instável vem da forma como o próprio álbum foi concebido. Mesmo centrado na imagem de Carneiro, parte expressiva da obra vem da interferência direta de diferentes instrumentistas e vozes da cena carioca. São nomes como Aline Gonçalves (clarinete), Karina Neves (flauta) Jonas Hocherman (trombone), Guilherme Lirio (baixo), Tomas Rosati (percussão), Uirá Bueno (bateria), Gabriel Ventura (efeitos) e a sempre versátil Ana Frango Elétrico, parceria do artista durante toda a execução do trabalho, vide músicas como Sabidão Sabe Nada e Polícia do Mundo.

De fato, difícil ouvir as canções de Briga de Família e não perceber o disco como uma extensão natural, talvez menos polida, do som entregue Little Electric Chicken Heart (2019), último álbum de inéditas da cantora carioca. Canções montadas a partir da colorida sobreposição de ideias e referências extraídas de diferentes campos da música. Instantes em Carneiro e seus parceiros de banda vão do jazz ao rock psicodélico, de Tom Zé a Itamar Assumpção sem necessariamente adotar uma estética específica, proposta que torna a experiência do ouvinte sempre curiosa, como se diferentes obras fossem (des)organizadas dentro de um único trabalho.

Exemplo disso está na divertida Cancioneiro Fitness Espiritual. São pouco mais de três minutos em que o grupo carioca parte de uma base reducionista para se perder em um samba urbano e bem-humorado. “Quem não adoece não melhora / Quem não endoida não é são / Mas é melhor cuidar da mente e da saúde e uma boa refeição“, canta. A própria Êxodo, logo na abertura do disco, reflete a capacidade do artista em brincar com as possibilidades dentro de estúdio. Melodias, batidas e vozes que encolhem e crescem a todo instante, como um avanço claro em relação a tudo aquilo que o músico havia detalhado no álbum anterior.

Mesmo nesse cenário marcado pela constante desconstrução das ideias, interessante perceber em faixas como Jaggea e Good Vibe Bad Trip a passagem para o lado mais sensível da obra. Da composição dos arranjos ao uso econômico das vozes, tudo se projeta de forma contida, como uma fuga do restante do álbum. Perfeita representação desse resultado está em Jão Mininu, nona música do disco. Concebida de forma colaborativa, a canção assinada em parceria com Luiza Brina preserva a essência cômica do restante do trabalho (“João menino / Você pode chorar / Tudo bem / E se o pinto amolecer / Tudo bem também“), porém, aporta em novos territórios criativos.

Deliciosamente estranho, como tudo aquilo que Vovô Bebê tem produzido desde o primeiro álbum de estúdio, Briga de Família encanta pela forma como o artista carioca parece provar de diferentes possibilidades dentro de estúdio. São pouco mais de 40 minutos em que o ouvinte é convidado a se perder em um universo de pequenas incertezas, improvisos e corrupções estéticas, estrutura que naturalmente força uma audição atenta por parte do público, como se incontáveis histórias e personagens se escondessem por entre brechas do disco, conceito que se reflete mesmo nos instantes de maior calmaria do registro.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.