Ano: 2022
Selo: Balaclava Records
Gênero: Pop Psicodélico
Para quem gosta de: Pluma, Boogarins e YMA
Ouça: Convenções Humanas e O Som dos Golfinhos
Ano: 2022
Selo: Balaclava Records
Gênero: Pop Psicodélico
Para quem gosta de: Pluma, Boogarins e YMA
Ouça: Convenções Humanas e O Som dos Golfinhos
Self (2022, Balaclava Records) é um disco que começa pequeno, cresce e sutilmente transporta o ouvinte para um mundo mágico. Segundo e mais recente trabalho de estúdio de Walfredo em Busca da Simbiose, o álbum estabelece nas inquietações vividas pelo multi-instrumentista, cantor, compositor e produtor Lou Alves um estímulo natural para construção dos versos. São composições que partem das experiências meditativas e delírios lisérgicos detalhados durante o período de isolamento social, como a passagem para um cenário de formas mutáveis, encontros passageiros, memórias e ambientações sempre enevoadas.
Não por acaso, ao inaugurar o disco com O Som dos Golfinhos, Alves faz da composição um verdadeiro convite para que o ouvinte mergulhe de cabeça no trabalho. “Eu vou te levar comigo“, reforça. São versos sempre acolhedores, estrutura que dialoga de forma bastante sensível com a fina tapeçaria instrumental que serve de complemento ao registro. Um precioso cruzamento entre guitarras carregadas de efeitos, reverberações nostálgicas e batidas trabalhadas de maneira precisa, refinamento que se completa pela participação dos músicos Anami Fernandes (bateria), Eric Woepl (sintetizadores) e Uiu Lopes (baixo).
Vem justamente desse criativo diálogo do músico com diferentes colaboradores o estímulo para algumas das principais composições que abastecem o disco, entre elas, Convenções Humanas. Completa pela participação do grupo paulistano Pluma, a faixa evidencia um dos momentos de maior beleza e delírio da obra. Das harmonias de vozes ao tratamento dado aos sintetizadores e guitarras borbulhantes que surgem e desaparecem durante toda a execução do material, difícil não se deixar conduzir pela experiências proposta por Alves. É como um campo aberto à experimentação e busca por novas possibilidades.
Esse mesmo resultado fica ainda mais evidente com a chegada de Medicina, próxima ao encerramento do disco. Marcada pela presença de Larissa Conforto, do ÀIYÉ, com Alves manteve um contato bastante próximo durante a montagem da obra, a faixa de quase seis minutos cresce em uma medida própria de tempo. São ambientações sutis, ruídos e efeitos que se entrelaçam de forma a favorecer a construção dos versos. Um lento, porém, permanente desvendar de informações, estrutura que acaba orientando a também delicada Netuno, encontro com o músico e produtor Fernando Rischbieter (YMA, Lau e Eu).
Nada que diminua o impacto de composições assumidas integralmente pelo artista. Exemplo disso fica bastante evidente em Monstros. Enquanto os versos utilizam de conflitos pessoais, dores e questões existencialistas, arranjos empoeirados se revelam ao público em pequenas doses, sem pressa. São ecos de Connan Mockasin e Mac DeMarco, mas que em nenhum momento deixa de dialogar com os temas melancólicos de Arnaldo Baptista e outros nomes da cena brasileira. A própria Traumas de Estimação, posicionada logo na abertura do disco, parece contribuir para esse resultado, arrastando o ouvinte para um ambiente consumido pela dor e contemplação. “Não faz sentido se não for sentindo“, reflete Alves.
Por se tratar de uma obra dotada de uma linguagem bastante particular, Self, como o próprio título aponta, acaba se revelando ao público como um material excessivamente hermético. Mesmo a base instrumental do disco partilha de uma estrutura, arranjos e timbres bastante similares, contribuindo para a forte aproximação entre as faixas. Entretanto, o que tinha tudo para parecer um registro inacessível, íntimo apenas de Alves, invariavelmente atiça a curiosidade do ouvinte, arrastado para dentro desse cenário. Composições que partem de pequenos fluxos de pensamento para estimular nossas próprias percepções.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.