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Crítica

Washed Out

: "Purple Noon"

Ano: 2020

Selo: Sub Pop

Gênero: Eletrônica, Chillwave, Synthpop,

Para quem gosta de: Toro Y Moi e Neon Indian

Ouça: Time To Walk Away e Too Late

6.5
6.5

Washed Out: “Purple Noon”

Ano: 2020

Selo: Sub Pop

Gênero: Eletrônica, Chillwave, Synthpop,

Para quem gosta de: Toro Y Moi e Neon Indian

Ouça: Time To Walk Away e Too Late

/ Por: Cleber Facchi 10/08/2020

Ernest Greene conseguiu em poucos discos o que muitos artistas levam uma vida inteira para alcançar: uma estética própria. Da dobradinha composta pelos EPs High Times e Life of Leisure, ambos lançados em 2009, passando pela sensualidade explícita em Within and Without (2011) e o flerte com o reggae em Paracosm (2013), evidente é o esforço do cantor, compositor e produtor norte-americano em amarrar cada novo registro dentro de um mesmo universo musical. Mesmo Mister Mellow (2017), obra em que mais se distancia desse mesmo território criativo, em nenhum momento rompe com os antigos trabalhos do músico residente em Atlanta, Georgia.

É partindo justamente dessa mesma base temática, sem grandes transformações, que Greene apresenta ao público o quarto e mais recente álbum de estúdio como Washed Out: Purple Noon (2020, Sub Pop). Ponto de equilíbrio entre o que há de mais delirante e acessível na obra do produtor norte-americano, o registro de dez faixas vai da psicodelia ao pop em uma criativa colagem de tendências. Instantes em que o ouvinte é convidado a reviver a letargia explícita em Within and Without, porém, dentro do mesmo conceito acolhedor que caracteriza algumas das principais faixas apresentadas em Paracosm.

Não por acaso, Green fez de Too Late a primeira composição do disco a ser apresentada ao público. Originalmente lançada em abril deste ano, antes mesmo do anúncio da obra, a canção costura passado e presente em uma estrutura quase formulaica. São incontáveis camadas instrumentais que atravessam o pop dos anos 1980 e apontam para os temas litorâneos da balearic beat, proposta que se completa pelo romantismo agridoce que escorre por entre os versos. “Eu peguei sua mão e te levei para fora / Você não se importou, quando você me deu um sorriso / Então foi isso / Eu sabia que nossa noite ainda não havia acabado“, relembra de forma nostálgica.

Esse mesmo lirismo confessional acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. São canções consumidas por memórias de um passado recente, como se Greene relembrasse os últimos momentos ao lado da mulher amada. “Eu posso sentir isso / Bem no fundo dos meus ossos / Você está indo / Você quer me deixar ir“, canta na dolorosa Don’t Go, música consumida pela melancolia dos versos e instrumentação sempre atmosférica, como se pensada para envolver o ouvinte. Instantes em que o músico norte-americano transforma as próprias emoções em música, tratamento que acaba se refletindo em faixas como Leave You Behind e Haunt.

Entretanto, mesmo nesse universo regido pela dor, Greene jamais se deixa consumir pelo próprio sofrimento. Exemplo disso está em Paralyzed, quarta faixa do disco. “Você está sempre na minha mente / Não posso esperar outra noite / Quando você volta pra casa? / Eu preciso te ver agora“, confessa. São versos deliciosamente românticos, como uma propositada fuga do restante da obra. Mesmo Time To Walk Away, com sua poesia triste, carrega no uso das batidas e sintetizadores inebriantes um elemento de ruptura. Pouco mais de quatro minutos em que o ouvinte é convidado a reviver parte das experiências detalhadas nos primeiros registros autorais.

Dividido entre a celebração ao amor e o abandono que consome o eu lírico, Greene garante ao público um álbum equilibrado. Mesmo que decepcione por não apresentar nada substancialmente novo em relação aos antigos registros do músico, vide a forte similaridade com o material apresentado em Within and Without e Paracosm, sobrevive na poesia intimista e doce melancolia que rege o disco um importante elemento de conexão com o ouvinte. De fato, poucas vezes antes um trabalho produzido por Washed Out pareceu tão acessível, indicativo do completo domínio do artista em relação a própria obra, como um acumulo tudo aquilo que o produtor tem explorado desde o início da carreira.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.