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Crítica

Water From Your Eyes

: "Everyone's Crushed"

Ano: 2023

Selo: Matador

Gênero: Art Rock, Indie Rock

Para quem gosta de: Dry Cleaning e Model/Actriz

Ouça: True Life, 14 e Barley

8.0
8.0

Water From Your Eyes: “Everyone’s Crushed”

Ano: 2023

Selo: Matador

Gênero: Art Rock, Indie Rock

Para quem gosta de: Dry Cleaning e Model/Actriz

Ouça: True Life, 14 e Barley

/ Por: Cleber Facchi 01/06/2023

Se existe um registro capaz de romper com o conhecido hermetismo do Water From Your Eyes, esse é Everyone’s Crushed (2023, Matador). Mais recente trabalho de estúdio da dupla formada por Rachel Brown e Nate Amos, o álbum de nove composições preserva a essência provocativa dos discos que o antecedem, como Somebody Else’s Song (2019) e Structure (2021), porém, utiliza de uma abordagem parcialmente acessível, como um estranho convite da banda estadunidense a se perder em um território marcado pela permanente corrupção das ideias, uso sempre calculado das guitarras e versos altamente confessionais.

Não por acaso, em fevereiro deste ano, quando a dupla anunciou o lançamento do trabalho, Barley foi a canção escolhida para marcar essa nova fase na carreira da banda. Enquanto os versos, sempre regidos pela sensação de movimento, detalham paisagens e cenas descritivas de forma cíclica, guitarras tortas surgem e desaparecem durante toda a execução da faixa. É como um aceno momentâneo para a obra de veteranos como Sonic Youth, mas que em nenhum momento perde o brilho pop, efeito do jogo de palavras que parecem projetadas de forma a grudar na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição da faixa.

São justamente essa pequenas repetições e elementos sempre marcados que garantem ao álbum uma identidade única. É como se Amos, também produtor do disco, e Brown fossem capazes de traduzir horas de audição de diferentes exemplares da música de vanguarda norte-americana, principalmente trabalhos relacionados ao movimento No Wave, de forma atualizada, talvez íntima de uma parcela maior de ouvintes. Exemplo disso fica evidente na estrutura esquelética de True Life, música que dialoga com as criações de Arto Lindsay no DNA sem necessariamente romper com a essência dos antigos lançamentos da dupla.

Claro que essa parcial simplificação dos elementos não interfere na entrega de faixas menos imediatas e que exigem maior dedicação por parte do ouvinte. Em Remember Not My Name, por exemplo, Brown e Amos brincam com as distorções, ruídos ocasionais e transformam o pisca-alerta de um carro em um componente de marcação rítmica. A própria música de abertura do disco, Structure, é outra que chama a atenção pelo permanente atravessamento de informações. São fragmentos de vozes e ambientações que mudam de direção todo instante, tudo isso em um intervalo de pouco menos de dois minutos de duração.

Entretanto, para além do exercício estético e esforço da dupla e provar de novas possibilidades dentro de estúdio, Everyone’s Crushed encanta pela sensibilidade dos temas abordados ao longo do registro. Já conhecida do público, 14 é uma boa representação desse resultado. Enquanto a base da canção se destaca pelo encontro entre ruídos e temas orquestrais, Brown busca exorcizar os próprios demônios. “Eu tracei o que eu apaguei / Estou pronto para vomitar você“, canta. E ela não é a única. Durante toda a execução do álbum, músicas consumidas pela permanente sensação de abandono estreitam relações com o ouvinte.

Dessa forma, a banda garante ao público uma obra tão desconcertante quanto intimista. São canções que partem de frustrações e experiências traumáticas, ganham forma em meio a delírios instrumentais e brincam com a interpretação do ouvinte durante toda a execução do material. Mesmo que seja possível apontar a fonte de algumas das principais criações da dupla e muitos dos elementos incorporados em Everyone’s Crushed tenham sido previamente explorados pelo Water From Your Eyes, tudo se apresenta de forma tão bem resolvida que é difícil não se deixar conduzir pelo estranho e fascinante repertório do disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.