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Crítica

White Lung

: "Premonition"

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Punk Rock, Indie Rock

Para quem gosta de: Sleater-Kinney e Fucked Up

Ouça: Date Night, Girl e Tomorrow

8.0
8.0

White Lung: “Premonition”

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Punk Rock, Indie Rock

Para quem gosta de: Sleater-Kinney e Fucked Up

Ouça: Date Night, Girl e Tomorrow

/ Por: Cleber Facchi 16/12/2022

Em um intervalo de quase duas décadas, o White Lung se mostrou como uma das bandas mais intensas da cena canadense. Regido pela poesia visceral de Mish Barber-Way, o grupo, completo pela baterista Anne-Marie Vassiliou e o guitarrista Kenneth William, revelou ao público uma sequência de composições mergulhadas em abusos emocionais, traumas e momentos de maior libertação. Um doloroso exercício criativo que disse a que veio logo no primeiro trabalho de estúdio, It’s the Evil (2010), mas que alcançou melhor resultado no amadurecimento explícito em Sorry (2012), Deep Fantasy (2014) e Paradise (2016).

Longe dos palcos desde o último registro de inéditas e com uma turnê adiada por conta da pandemia de Covid-19, o White Lung decidiu encerrar suas atividades, mas não sem antes de presentear o público com um novo trabalho de estúdio, Premonition (2022, Domino). Naturalmente íntimo de tudo aquilo que o trio tem desenvolvido desde a mudança de direção adotada em Deep Fantasy, o álbum de dez faixas reforça o lado melódico da banda canadense, porém, preservando a completa crueza dos elementos e entrega dos próprios integrantes, direcionamento que embala as criações do grupo até os minutos finais do material.

Direto ao ponto, como tudo aquilo que a banda tem produzido desde o primeiro trabalho de estúdio, Premonition engata uma composição atrás da outra, sem tempo para possíveis respiros. A própria escolha de Hysteric como música de abertura funciona como uma boa representação desse resultado. Entre guitarras e batidas rápidas, Barber-Way traz de volta o lirismo angustiado e inquietações feministas que há tempos embalam as criações do grupo. “Estou histérica / Com as demandas vazias da cabeça de outro homem … Você vê o grande prêmio dentro dos meus olhos tristes / E é mais do que você saberá“, dispara.

É partindo dessa fluidez expressa logo nos minutos iniciais que o trio orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução do trabalho. São guitarras furiosas que entram e saem de cena a todo instante, sempre acompanhadas pela bateria potente de Vassiliou. Instantes em que o grupo canadense traz de volta uma série de elementos originalmente testados nos registros anteriores, porém, sustentados por novas temáticas e tormentos compartilhados por Barber-Way. Composições que vão de conflitos sentimentais ao recente processo de maternidade vivido pela vocalista da banda durante o período de isolamento social.

Sétima composição do disco, Girl representa de forma bastante expressiva tudo aquilo que a cantora busca desenvolver tematicamente ao longo da obra. Enquanto guitarras ruidosas e batidas se espalham de forma desmedida, Barber-Way sustenta nos versos uma forte mensagem de acolhimento para a filha recém-nascida. “Apenas espere até você crescer, garota / Apenas espere pela luta … Apenas espere até que esteja tudo bem“, canta. Esse mesmo lirismo emocional que contrasta com a crueza dos arranjos acaba se refletindo em outros momentos ao longo da álbum, como nas já conhecidas Tomorrow e If You’re Gone.

Capítulo final de um dos projetos mais interessantes da cena canadense, Premonition não apenas preserva a urgência que sempre abasteceu as criações do trio de Vancouver, como destaca o esforço grupo em se manter relevante até o último suspiro. Mesmo que parte expressiva do registro utilize de uma abordagem bastante característica da banda, sobrevive no lirismo atento de Barber-Way um permanente senso de renovação. Dessa forma, o White Lung se despede do público, porém, deixa bastante claro que se um dia houver a necessidade de um retorno, seus integrantes ainda têm muito o que explorar dentro de estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.