Image
Crítica

Wilco

: "Cousin"

Ano: 2023

Selo: dBpm

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Yo La Tengo e Bill Callahan

Ouça: Infinite Surprise, Evicted e Pittsburg

8.0
8.0

Wilco: “Cousin”

Ano: 2023

Selo: dBpm

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Yo La Tengo e Bill Callahan

Ouça: Infinite Surprise, Evicted e Pittsburg

/ Por: Cleber Facchi 12/10/2023

A última vez que os integrantes do Wilco entraram em estúdio na companhia de um produtor dedicado foi há mais de uma década, durante o lançamento de Wilco (The Album) (2009), trabalho que contou com o suporte do experiente Jim Scott (The Rolling Stones, Foo Fighters). De lá pra cá, o grupo encabeçado por Jeff Tweedy adotou um método de criação mais fluido, registrando boa parte das composições ao vivo e contando com a engenharia de som de Tom Schick. O resultado desse processo está na apresentação de álbuns interessantes, porém, incapazes de repetir a boa fase da banda de Chicago no início dos anos 2000.

Obra que mais se aproxima desse resultado, Cousin (2023, dBpm) se revela ao público como o produto final de um esforço coletivo não apenas entre os integrantes da banda, hoje completa por John Stirratt, Glenn Kotche, Mikael Jorgensen, Nels Cline e Pat Sansone, mas pela interferência direta da cantora e compositora galesa Cate Le Bon, responsável pela produção do disco. Avessa ao método adotado pelo grupo na última década, a artista que já colaborou com nomes como Deerhunter decidiu registrar cada instrumento individualmente, trabalhando a partir de demos originalmente gravadas por Tweedy em 2019.

E esse maior esmero no processo de criação do álbum tem seus benefícios revelados logo nos minutos iniciais da obra, em Infinite Surprise. Enquanto os versos mais uma vez destacam o lirismo agridoce de Tweedy (“Sinto muito por ter feito você chorar / Você sabe que isso não é do meu feitio“), camadas de guitarras e ruídos ocasionais trazem de volta o mesmo experimentalismo explícito em registros como Yankee Hotel Foxtrot (2002) e A Ghost Is Born (2004), esse último, fortemente inspirado pela produção de Jim O’Rourke, nome externo que mais deixou traços tão significativos na obra do Wilco antes de Le Bon.

De fato, mais do que auxiliar o grupo de Chicago em estúdio, a produtora galesa, assim como O’Rourke, busca interferir diretamente no processo de criação do álbum. Exemplo disso fica bastante evidente na própria faixa-título do trabalho. Do tratamento dado à bateria passando pela escolha dos timbres e base enevoada das guitarras, tudo soa como uma extensão dos últimos registros de inéditas de Le Bon, caso de Reward (2019) e o recente Pompeii (2022). São estruturas que talvez ecoem de maneira inédita quando próximas das últimas criações do Wilco, mas que emanam um comodismo autoral por parte da artista.

Claro que Tweedy e seus parceiros de banda estão longe de parecer meros peões aos comandos de Le Bon. Em Evicted, por exemplo, mesmo partindo de uma abordagem bastante característica das criações da artista galesa, evidente é o esforço do grupo em assumir cada instrumento com destaque, esmero que vai das harmonias de vozes às diferentes camadas de guitarras. O mesmo pode ser percebido na derradeira Meant To Be, composição que potencializa a relação do Wilco com o alt. country, porém, partindo de um direcionamento atualizado, como uma resposta ao repertório do ainda recente Cruel Country (2022).

Mais do que um precioso exercício criativo que vai da construção dos arranjos à produção renovada de Le Bon, Cousin é um registro que encanta pela sensibilidade poética de Tweedy. São canções como Pittsburg, com sua base reducionista, que se distanciam de possíveis excessos de forma a fortalecer ainda mais os versos detalhados pelo músico. “Eu sou uma bandeira onde o vento não sopra / Eu sou uma criança que nunca cresce / Meu corpo jaz, e nunca é levado embora“, canta. É como um regresso ao existencialismo doloroso que marca os últimos trabalhos do artista em carreira solo, como Warm (2018) e Love Is The King (2010), mas que em nenhum momento oculta o dinamismo e fluidez tão característica do grupo de Chicago.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.