Image
Crítica

Wilco

: "Cruel Country"

Ano: 2022

Selo: dBpm

Gênero: Alt. Country

Para quem gosta de: Jeff Tweedy e Bill Callahan

Ouça: Darkness is Cheap e Many Worlds

7.5
7.5

Wilco: “Cruel Country”

Ano: 2022

Selo: dBpm

Gênero: Alt. Country

Para quem gosta de: Jeff Tweedy e Bill Callahan

Ouça: Darkness is Cheap e Many Worlds

/ Por: Cleber Facchi 18/07/2022

Com o período de reabertura pós-pandêmico, Jeff Tweedy (voz, guitarras) e seus parceiros de banda, John Stirratt (baixo), Glenn Kotche (bateria), Mikael Jorgensen (teclados) e Pat Sansone (guitarras) e Nels Cline (guitarras), decidiram seguir um caminho diferente para o primeiro álbum do Wilco desde Ode To Joy (2019). Com todos os membros reunidos em estúdio, os músicos optaram pela produção de um material gravado ao vivo, sem grandes edições. Mais do que isso, o sexteto de Chicago utilizou de uma abordagem menos experimental durante as sessões, rompendo com a trilha apontada há duas décadas, em Yankee Hotel Foxtrot (2001), para regressar, mesmo que momentaneamente, aos primeiros registros de inéditas.

O resultado desse processo está na entrega de Cruel Country (2022, dBpm). Primeiro álbum duplo da banda desde o cultuado Being There (1996), o trabalho mostra um grupo talvez contido quando próximo dos últimos registros de estúdio, porém, ainda interessante. São canções marcadas pelo uso de arranjos acústicos e versos regidos pela forte melancolia dos temas, direcionamento que muito se assemelha ao material entregue Sky Blue Sky (2007), porém, dialoga criativamente com tudo aquilo que Tweedy desenvolveu nos primeiros anos após o fim das atividades do Uncle Tupelo, vide o introdutório A.M. (1995).

E isso fica bastante evidente durante a primeira porção do trabalho. Dividido em dois blocos específicos de composições, Cruel Country sustenta no segmento que vai de I Am My Mother à derradeira The Universe um repertório autobiográfico e contemplativo. Canções que parecem nascidas de inquietações vividas por Tweedy durante o período de isolamento social, efeito direto do acabamento angustiado que pouco a pouco consome os versos. São preciosidades como Darkness Is Cheap e Tired of Taking It Out on You em que utiliza dos próprios tormentos e desilusões para estreitar a relação com o ouvinte de forma sensível.

Passado esse momento de maior introspecção e vulnerabilidade, Cruel Country se encaminha para a porção seguinte, onde Tweedy e seus parceiros ampliam o próprio campo de atuação. Não por acaso, Many Worlds foi a canção escolhida para marcar essa divisão. São pouco menos de oito minutos em que o grupo de Chicago se permite brincar com as possibilidades em estúdio, mergulhando na construção de ambientações sujas e momentos de maior experimentação que acenam para o repertório de A Ghost Is Born (2004). Nada que distancie o registro dos temas apresentados na primeira metade do trabalho.

Então sente-se / Porque eu vou ser o único / Desmoronando agora“, canta em Falling Apart (Right Now), composição que não apenas se aprofunda nos temas detalhados no restante da obra, como potencializa a relação do grupo com a música country. Esse mesmo resultado ecoa de forma ainda mais evidente em A Lifetime to Find e Mystery Binds. São canções marcadas pelo uso de guitarras timbrísticas, emulando a atmosfera de grande exemplares do cancioneiro norte-americano. Instantes em que o grupo aponta para a obra de veteranos do gênero, como Hank Williams, porém, preservando a própria identidade criativa.

Misto de regresso aos primeiros registros da banda e extensão do repertório apresentado por Tweedy nos últimos trabalhos em carreira solo, como o confessional Warm (2018), Cruel Country encanta sem grandes dificuldades, porém, tende aos excessos. Embora organizado em duas porções bastante características, será que todas as composições são realmente necessárias para o desenvolvimento da obra? Por mais interessante e aprazível que seja a experiência de ouvir o material, difícil chegar ao final do disco e não se sentir consumido pelos versos e temas instrumentais que utilizam de uma abordagem tão específica.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.