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Crítica

Wry

: "Aurora"

Ano: 2022

Selo: Before Sunrise

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Atalhos e Terno Rei

Ouça: Sem Medo De Mudar e Contramão

7.5
7.5

Wry: “Aurora”

Ano: 2022

Selo: Before Sunrise

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Atalhos e Terno Rei

Ouça: Sem Medo De Mudar e Contramão

/ Por: Cleber Facchi 01/12/2022

Com a representativa Sem Medo De Mudar como música de abertura, fica bastante evidente a proposta explorada pelos integrantes do Wry em Aurora (2022, Before Sunrise). Perto de completar três décadas de carreira, o grupo sorocabano se aventura pela primeira vez na construção de um repertório cantado inteiramente em português. Partindo dessa mudança de direção, o grupo formado por Mario Bros (voz, sintetizador e guitarra), Lu Marcello (guitarra), William Leonotti (Baixo e vozes) e Italo Ribeiro (bateria) se aprofunda na entrega de um trabalho consumido pela força dos sentimentos e pequenas inquietações.

Primeiro registro de inéditas da banda paulista desde o intenso Noites Infinitas (2020), de onde vieram composições como Tumulto, Barulho e Confusão e Morreu a Esperança, Aurora, como o próprio título aponta, é um trabalho esperançoso em relação ao disco que o antecede, mas não menos contemplativo e delicado. “Sei que posso te dizer / Que a vida é mais que viver / Que as dores fazem parte de nós / Que as pessoas partem“, reflete Bros em Quero Dizer Adeus, canção que sintetiza parte das angústias e temas explorados pelo quarteto sorocabano até os minutos finais da obra, na existencial Vivendo No Espelho.

São canções que funcionam como um passeio pela mente dos próprios artistas, detalhando conflitos pessoais e momentos de maior instabilidade emocional. Exemplo disso fica bastante evidente em Contramão. Enquanto a base da composição aponta para o rock dos anos 1980, efeito das guitarras que evocam Johnny Marr, sobrevive na construção dos versos um fino toque de vulnerabilidade. “Não há nada errado / Se acostumar com a solidão / Sem ninguém por perto / Quero me trancar nessa prisão“, canta em um misto de melancolia e aceitação, direcionamento que se reflete em outros momentos ao longo da obra.

Sexta faixa do disco, Labirinto Mental é um bom exemplo disso. Menos urgente em relação ao restante da obra, a composição de essência psicodélica mergulha em tormentos e crises existenciais. “Acho que já fui um dia escravo de um ideal / Estava preso em mim mesmo“, canta. Mesmo quando se aprofunda em temas sentimentais, como em Pra Onde Eu Vou, prevalece o lirismo inquietante. “Eu sinto que agora estou no lugar / Mesmo sem saber se vão me querer / Penso todo dia se vale a pena fugir mais uma vez“, reflete. Canções que mesmo íntimas dos próprios realizadores, em nenhum momento deixam de dialogar com o ouvinte.

Dos poucos momentos em rompe com esse caráter existencial, o grupo traz de volta o lirismo político que marca o repertório entregue no trabalho anterior. Perfeita representação desse resultado acontece em Temos Um Inimigo, sétima composição do disco. Entre guitarras e batidas rápidas, sempre certeiras, prevalece na construção dos versos uma análise sobre a criação de personagens alavancados pelas redes sociais e a lógica torta que orienta a nossa sociedade. “Estupidez nunca será virtude … Estou do lado honesto da história / Sei que ninguém aqui vai ficar pra traz / Nem os otários que dançavam iguais“, canta.

Equilibrado, como tudo aquilo que o grupo sorocabano tem produzido desde o retorno às atividades, em 2014, Aurora mostra uma banda tão interessante hoje quanto em início de carreira. Mesmo que muitas das composições utilizem de uma abordagem instrumental bastante similar, como uma extensão do repertório entregue em Noites Infinitas, sobrevive na construção dos versos e temas explorados pelo quarteto um evidente elemento de destaque. De fato, poucas vezes antes o Wry pareceu tão sensível e íntimo do ouvinte quanto no presente álbum, cuidado que se reflete durante todo o processo de audição do trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.