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Crítica

Wry

: "Noites Infinitas"

Ano: 2020

Selo: OAR

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo, Shoegaze

Para quem gosta de: Andrio Maquenzi e Jair Naves

Ouça: Tumulto,Barulho e Confusão, Morreu a Esperança e I Feel Invisible

7.8
7.8

Wry: “Noites Infinitas”

Ano: 2020

Selo: OAR

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo, Shoegaze

Para quem gosta de: Andrio Maquenzi e Jair Naves

Ouça: Tumulto,Barulho e Confusão, Morreu a Esperança e I Feel Invisible

/ Por: Cleber Facchi 12/11/2020

Em 2018, durante as eleições que elegeram Jair Bolsonaro como Presidente da República, o então candidato do PSL conquistou 73% dos votos válidos na cidade de Sorocaba, município localizado no interior do estado de São Paulo. Ainda que outros fatores devam ser levados em consideração para analisar o comportamento da população sorocabana, os mais de 250 mil eleitores que apoiaram as ideias de Bolsonaro ajudam a entender a dimensão do conservadorismo na região. Partindo desse cenário consumido pelo retrocesso, o que fazer quando a linha de pensamento retrógrada impera no lugar onde você mora? Os integrantes do Wry decidiram investir no que fazem de melhor: música.

Marcado pelo aspecto contestador, Noites Infinitas (2020, OAR), primeiro álbum de estúdio do grupo sorocabano em 11 anos, utiliza desse sentimento de indignação como estímulo para a formação dos versos. São canções marcadas pela ferocidade dos temas e constante sensação de deslocamento do eu lírico, sempre crítico e avesso ao ambiente que o cerca. Instantes em que o grupo formado por Mario Bross (voz, guitarras e sintetizadores), Luciano Marcello (guitarra e voz ), William Leonotti (baixo e voz) e Ítalo Ribeiro (bateria e voz) preserva a essência dos antigos registros de inéditas, porém, partindo de um novo direcionamento criativo, estético e lírico.

E isso pode ser percebido logo nos primeiros minutos do disco. Passado o aquecimento proposto pela introdutória Travel (“Nós não sabemos, não nos importamos / Não temos nada a perder / Não temos nada a temer“), música que evoca o rock inglês dos anos 1990, a dobradinha composta por Tumulto, Barulho e Confusão e Morreu a Esperança torna explícito o sentimento conflitante do quarteto. “Um gosto amargo / A imagem estranha / Um egoísta / Como é que ele ganha“, questiona Bross enquanto guitarras e batidas rápidas preparam o terreno para o refrão que, mesmo contestador, parece pensado para grudar na cabeça do ouvinte. “Estou na pessoa errada / Não vejo saída / Ninguém tem mais razão / Morreu a esperança“, canta.

Ao mesmo tempo em que questiona o atual cenário político do país, interessante perceber em Noites Infinitas uma obra que se aprofunda no uso de temas existencialistas. Parte desse direcionamento pode ser percebido principalmente nas canções em inglês que recheiam o álbum. São músicas como I Feel Invisible (“Eu sou aquele no baile de máscaras / Eu não quero revelar meu rosto“) e Man In The Mirror (“Eu posso me ver no espelho / Mergulhando em um mar profundo“), em que Bross utiliza de conflitos particulares como reforço aos versos, proposta que amplia de maneira significativa o alicerce criativo da obra.

Se por um lado essa necessidade de transformar as próprias inquietações em música expande os limites do álbum, por outro, não há como ignorar a forte similaridade entre parte das faixas. São músicas como Uma Pessoa Comum, I Can Change e Absoluta Incerteza em que o grupo parece dar voltas em torno de um mesmo conjunto de experiências pessoais. Mesmo a base instrumental que serve de sustento ao bloco final do disco parece pouco estimulante, por vezes previsível. É como se toda a surpresa e os momentos de maior destaque fossem reservadas aos minutos iniciais de Noites Infinitas, perdendo fôlego à medida em que o álbum avança.

Entretanto, mesmo pontuado por momentos de maior instabilidade e faixas que incorporam temáticas bastante parecidas, Noites Infinitas mantém firme a consistência de suas canções, como se a banda soubesse exatamente que direção seguir dentro de estúdio. Observado de maneira atenta, poucos são os grupos brasileiros com mais de duas décadas de carreira que ainda se mantém tão relevantes e criativamente ativos quanto o grupo sorocabano. Perto do registro que o antecede, o psicodélico She Science (2009), o novo álbum evidencia a imagem de um quarteto renovado, como se mesmo após esse longo período de atuação, o Wry ainda tivesse muito a oferecer.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.