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Crítica

Xênia França

: "Em Nome Da Estrela"

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Neo-Soul, R&B, MPB

Para quem gosta de: Luedji Luna e Giovani Cidreira

Ouça: Renascer, Ancestral Infinito e Dádiva

8.6
8.6

Xênia França: “Em Nome Da Estrela”

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Neo-Soul, R&B, MPB

Para quem gosta de: Luedji Luna e Giovani Cidreira

Ouça: Renascer, Ancestral Infinito e Dádiva

/ Por: Cleber Facchi 15/06/2022

Passado, presente e futuro se encontram nas canções de Em Nome da Estrela (2022, Independente). Mais recente trabalho de inéditas de Xênia França, o sucessor do introdutório Xenia (2017), lançado há cinco anos, traz de volta uma série de conceitos marcados pelas vivências da cantora e compositora baiana como mulher negra, porém, se permite provar de diferentes possibilidades em estúdio e apontar para novas direções criativas. São composições marcadas pela temática da ancestralidade, mas que em nenhum momento deixam de trilhar um caminho cintilante, abrindo passagem para o que ainda está por vir.

Perfeita representação desse resultado acontece na sequência de abertura do trabalho. Enquanto Renascer, revelada há poucas semanas, parte de uma abordagem existencialista e totalmente particular (“Rezo preces na solidão / Pra seguir o meu coração / E deixar curar / Me encontrar no fundo da alma“), com a chega de Interstelar, logo em sequência, a artista amplia consideravelmente os limites da própria obra e investe em um repertório marcado pelo aspecto transcendental. “A chave sagrada / O evento desdobra o tempo interstelar / O salto do quinto elemento / Viaja no prisma do olho solar“, detalha França.

São composições que encolhem e crescem a todo instante, jogando com a interpretação do ouvinte. A própria base instrumental do disco, marcadas pelo uso de sintetizadores futurísticos e batidas ritualísticas, evidencia esse permanente contraste que garante movimento e ritmo ao registro. Não por acaso, a artista baiana mais uma vez decidiu colaborar em estúdio com Pipo Pegoraro e Lourenço Rebetez, com quem havia trabalhado no álbum anterior. De fato, muito dos temas instrumentais incorporados ao longo da obra soam como uma extensão aprimorada do repertório entregue por Pegoraro em Antropocósmico (2020).

É como um campo permanentemente aberto às possibilidades e criativa combinação de ideias, ritmos e formas instrumentais. Instantes em que França parte de um universo bastante particular, como nos pequenos interlúdios em que resgata trechos de entrevistas, cantos e vozes, mas que tende a dialogar com o ouvinte em virtude da profunda sensibilidade dada aos versos. E isso acaba se refletindo mesmo em composições assinadas por outros artistas. É o caso de Dádiva, criação de Luiza Lian, mas que parece moldada de forma a se comunicar com tudo aquilo que a cantora busca desenvolver ao longo da obra.

Exemplo disso volta a se repetir em Já É, música que se abre para a chegada do rapper Rico Dalasam, estabelece uma conexão com o material apresentado no ainda recente Dolores Dala Guardião do Alívio (2021), mas em nenhum momento deixa de dialogar com o restante da obra. O mesmo acontece em Ânimus x Anima, delicada criação que se completa pela participação do arranjador e compositor Arthur Verocai e na releitura de Futurível, composição originalmente lançada por Gilberto Gil no final da década de 1960.

Precioso cruzamento de informações, Em Nome Da Estrela traz de volta uma série de conceitos, temas e estruturas testadas durante produção do primeiro álbum de estúdio, mas que a todo momento transportam o ouvinte para um novo e sempre inusitado território criativo. Do esmero dado aos versos, passando pela fina tapeçaria instrumental que cobre toda a superfície do registro, não são poucos os momentos em que França testa os próprios limites. Canções que condensam décadas de referências e estabelecem diferentes diálogos com a cultura negra de forma a potencializar os sentimentos e histórias detalhadas pela cantora.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.