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Crítica

Yasmin Williams

: "Urban Driftwood"

Ano: 2021

Selo: Spinster

Gênero: Instrumental, Folk, William Tyler

Para quem gosta de: William Tyler e Fabiano do Nascimento

Ouça: Juvenescence e After The Storm

8.0
8.0

Yasmin Williams: “Urban Driftwood”

Ano: 2021

Selo: Spinster

Gênero: Instrumental, Folk, William Tyler

Para quem gosta de: William Tyler e Fabiano do Nascimento

Ouça: Juvenescence e After The Storm

/ Por: Cleber Facchi 03/02/2021

Mesmo criada em um lar fortemente influenciado pelo jazz e o hip-hop, foi somente em 2009, depois de jogar Guitar Hero II, que o interesse de Yasmin Williams pela música veio à tona. Inspirada pelo jogo, a garota pediu aos pais um amplificador e uma guitarra, instrumento que foi rapidamente dominado pela jovem autodidata e serviu de passagem para o estudo do baixo e violão clássico. Uma vez imersa nesse cenário e utilizando de uma interpretação nada ortodoxa, a artista mergulhou em uma série de registros caseiros e outras produções independentes, processo que culminou no lançamento do introdutório Unwind (2018), mas que ganha ainda mais destaque com a chegada do maduro Urban Driftwood (2021, Spinster).

Obra de imersão, o registro inaugurado pela versátil Sunshowers, diz a que veio logo nos primeiros minutos. São camadas instrumentais que surgem e desaparecem durante toda a execução da faixa, revelando texturas e ambientações pouco usuais. É como se cada movimento de Williams transportasse o ouvinte para um território completamente novo, proposta que embala a experiência do público até a derradeira After The Storm, outro importante registro da capacidade da violonista em utilizar de uma base reducionista como estímulo para uma criação cada vez maior.

São justamente essas ambientações crescentes, sempre imprevisíveis, que garantem um frescor raro ao disco e permanente sensação de descoberta. Longe de qualquer traço de conforto, Williams tinge com ineditismo cada nova composição, fazendo da experiência de ouvir o álbum sempre satisfatória. O mais interessante talvez seja perceber a forma como ela perverte o cancioneiro tradicional, porém, de forma sempre acessível, estrutura que se reflete no movimento gracioso do violão. Exemplo disso acontece em Juvenescence. Pouco menos de quatro minutos em que a violonista vai de um canto a outro de forma detalhista, revelando incontáveis camadas instrumentais.

Contudo, na mesma medida em que adota uma sonoridade deliciosamente acolhedora, Williams estabelece pequenos elementos de ruptura que evidenciam o desejo em ampliar ainda mais os próprios limites. É o caso de Through the Woods. Regida pelo violão melódico da artista, a faixa delicadamente se converte em um labirinto de sons e formas pouco usuais, fazendo da percussão assinada pela própria artista um componente mágico. É como se musicista deixasse o cenário esverdeado do restante da obra para mergulhar em um ambiente urbano, lembrando as canções de veteranos como Tortoise.

E Williams não está sozinha nessa busca por novos caminhos. Diferente do disco anterior, em que se revezava na composição de cada elemento, a violonista utiliza do presente álbum como forma de se relacionar com outros artistas. É o caso de Amadou Kouyate, responsável pela percussão que corre ao fundo da faixa-título do trabalho. Instantes em que a musicista preserva a essência do restante da obra, com suas camadas e incontáveis variações instrumentais, porém, estreitando a relação com a cultura africana. A própria Adrift, completa pelo violoncelo de Taryn Wood, garante ao disco um acabamento ainda mais sensível.

Tamanho esmero no processo de criação da obra revela ao público uma obra que exige ser revisitada. Perceba como cada composição ao longo do disco concentra uma variedade de pequenos detalhes, elementos percussivos, cordas e quebras conceituais. Canções que naturalmente preservam tudo aquilo que Williams havia testado durante o lançamento de Unwind, porém, de forma ainda mais complexa e detalhista. É como se a violonista revelasse ao público um mundo próprio, conceito que se reflete na própria imagem de capa do trabalho e segue em cada mínimo fragmento de Urban Driftwood.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.