Image
Crítica

Yaya Bey

: "Remember Your North Star"

Ano: 2022

Selo: Big Dada

Gênero: R&B, Neo-Soul

Para quem gosta de: SZA e Erykah Badu

Ouça: Keisha e Reprise

8.5
8.5

Yaya Bey: “Remember Your North Star”

Ano: 2022

Selo: Big Dada

Gênero: R&B, Neo-Soul

Para quem gosta de: SZA e Erykah Badu

Ouça: Keisha e Reprise

/ Por: Cleber Facchi 05/07/2022

Desde que deu vida ao primeiro trabalho de estúdio, o delicado The Many Alter-Egos of Trill’eta Brown (2016), Yaya Bey tem feito das vivências como mulher negra, sonhos e desilusões um estímulo natural para a montagem de cada nova composição. Porém, mesmo nesse universo de pequenos acertos que ainda resultou em obras como This Too… (2019) e Madison Tapes (2020), nunca antes a cantora e compositora nova-iorquina pareceu tão madura e ainda vulnerável quanto no fino repertório que embala as canções de Remember Your North Star (2022, Big Dada), quarto e mais recente álbum de inéditas revelado pela artista.

Marcado pelo reducionismo dos arranjos e forte aspecto confessional dos versos, Remember Your North Star é uma obra que exige uma audição atenta, contudo, gratifica o público durante todo o processo de imersão. São canções que se aprofundam em temas como misoginia, empoderamento feminino, amor próprio ou mesmo simples romances passageiros. Frações poéticas e sentimentais que partem de acontecimentos reais vividos pela cantora, mas que em nenhum momento ecoam de maneira hermética. É como a passagem para um território tão particular e intimista que parece pertencer ao próprio ouvinte.

Perfeita representação desse resultado fica bastante evidente na já conhecida Keisha. Enquanto a base instrumental se revela ao público em pequenas doses, detalhando incontáveis camadas de guitarras, batidas e melodias sempre preciosas, cada fragmento da composição parece pensado de forma a potencializar as angústias e emoções compartilhadas pela artista. “Sim, a buceta é tão, tão boa e ainda assim você não me ama … Por que você não gosta de coisas boas / Por que você reclama da alegria que eu trago“, detalha em meio a versos que funcionam como um delicado exercício de exposição sentimental.

Essa mesma vulnerabilidade e permanente sensação de entrega acaba se refletindo durante toda a execução do material. São composições como Alright (“Os monstros em sua cabeça, como você foge disso, meu amor?“), Pour Up (“Você não quer redefinir / Você não quer se arrepender“) e Reprise (“E quem você seria? / Se você não tivesse sido quem você precisava ser?“), em que a artista utiliza de inquietações, medos e tormentos pessoais como um importante componente de fortalecimento para os versos. Canções divididas entre o canto e a rima, sempre imprevisíveis, como um mergulho na mente da própria cantora.

Tamanha riqueza no processo de construção dos versos acaba se refletindo no minucioso acabamento instrumental dado ao disco. Mesmo partindo de uma base reducionista, proposta que dialoga com as criações de Erykah Badu e demais veteranas do neo-soul, Yaya Bey se aproxima outros nomes recentes, como KeiyaA e Solange, transitando por entre estilos e ampliando o próprio campo de atuação. O resultado desse processo está na entrega de músicas como Meet Me In Brooklyn, inusitado flerte com o reggae, e a já citada Pour Up, colaboração com DJ Nativesun em que utiliza de uma abordagem deliciosamente dançante.

Sobrevive justamente nesse esforço da artista em transitar por entre estilos um necessário elemento de renovação para o som produzido por Yaya Bey. Por mais delicados que sejam os temas incorporados pela cantora ao longo do álbum, parte expressiva do repertório de Remember Your North Star gira em torno de conceitos, personagens e narrativas anteriormente testadas em outros trabalhos, vide o material entregue no ainda recente The Things I Can’t Take With Me EP (2021). Um misto de conforto e evidente toque de transformação, proposta que embala com delicadeza o desenvolvimento do registro até os minutos finais.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.