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Crítica

Yeah Yeah Yeahs

: "Cool It Down"

Ano: 2022

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie Rock, Synthpop

Para quem gosta de: Interpol e Arcade Fire

Ouça: Spitting Off the Edge of the World e Different Today

7.7
7.7

Yeah Yeah Yeahs: “Cool It Down”

Ano: 2022

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie Rock, Synthpop

Para quem gosta de: Interpol e Arcade Fire

Ouça: Spitting Off the Edge of the World e Different Today

/ Por: Cleber Facchi 06/10/2022

Cool It Down (2022, Secretly Canadian) é um trabalho próximo e ainda assim distante de tudo aquilo que o Yeah Yeah Yeahs já havia apresentado anteriormente. Longe da urgência que marca os primeiros registros autorais, a banda formada por Karen O (voz), Brian Chase (bateria) e Nick Zinner (guitarra, sintetizadores) utiliza de uma abordagem contida, porém, cresce na construção dos versos e temas que dialogam com aspectos importantes da nossa sociedade. “Estamos dando voz aos sentimentos que eu quero ouvir refletidos de volta para mim na música“, disse a vocalista no texto de apresentação da obra.

Música de abertura do disco, Spitting Off the Edge of the World funciona como uma boa representação de tudo aquilo que o trio nova-iorquino busca desenvolver ao longo da obra. Enquanto sintetizadores e batidas calculadas se revelam ao público em uma medida própria de tempo, Karen e o convidado, o cantor e compositor Mike Hadreas, do Perfume Genius, se aprofundam na construção de uma faixas que traz à luz o pensamento obscurantista e personagens maquiavélicos que despontaram na última década. “Covardes, aqui está o Sol / Então baixem suas cabeças / Na ausência de bombas / Desenhe suas respirações“, canta.

Esse mesmo caráter provocativo fica ainda mais evidente no lirismo indagador expresso em Burning. “No mar, fora do fogo / Tudo isso está queimando / O que você vai fazer?“, questiona a vocalista em meio a versos que partem de inquietações sobre as mudanças climáticas, mas que parecem aplicáveis a diferentes acontecimentos políticos recentes. A própria base da canção, adornada pelo uso de temas orquestrais e batidas fortes, garante maior notoriedade e impacto à composição, proposta que resgata e amplia uma série de elementos originalmente testados no último trabalho de estúdio da banda, Mosquito (2013).

Embora consumido pela sobriedade dos temas e fino toque de pessimismo, Cool It Down estabelece o surgimento de pequenos bolsões de otimismo ao longo da obra. Exemplo disso acontece em Different Today. Mesmo partindo de uma abordagem puramente sentimental, difícil não se deixar conduzir pelo lirismo esperançoso da canção. “Como o mundo continua girando / Ele vai girando, sim / Eu me sinto diferente hoje, diferente hoje“, confessa. Mesmo a música de encerramento, Mars, em que parte de cenas do cotidiano e conversas com o próprio filho, funciona como uma delicada representação desse resultado.

Interessante notar que mesmo apontando para diferentes direções criativas, Cool It Down em nenhum momento tende ao exagero. Diferente do material entregue no registro anterior, o trio se concentra na produção de um repertório essencialmente enxuto e direto ao ponto. São apenas oito composições, conjunto mais do que suficiente para que a banda mostre todo seu potencial em estúdio. E isso fica ainda mais evidente quando músicas como Wolf e Fleez surgem no decorrer do trabalho, capturando a atenção do ouvinte em meio a sintetizadores pulsantes, guitarras e versos enérgicos disparados pela vocalista.

Entregue ao público mais de duas décadas após a formação do Yeah Yeah Yeahs, Cool It Down mostra uma banda tão inventiva hoje quando em início de carreira. Mesmo que momentos de maior instabilidade sejam percebidos ao longo da obra, como em Lovebomb e Blacktop, prevalece o domínio criativo e força do trio nova-iorquino durante toda a execução do trabalho. É como se o grupo seguisse de onde parou no registro anterior, porém, livre de possíveis excessos, proposta que se reflete não apenas no refinamento dado aos arranjos e temas instrumentais, como na construção dos versos que crescem dentro de cada composição.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.