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Crítica

Yeule

: "Glitch Princess"

Ano: 2022

Selo: Bayonet Records

Gênero: Pop, Glitch Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: Grimes e Caroline Polachek

Ouça: Don't Be So Hard... e Bites on My Neck

8.2
8.2

Yeule: “Glitch Princess”

Ano: 2022

Selo: Bayonet Records

Gênero: Pop, Glitch Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: Grimes e Caroline Polachek

Ouça: Don't Be So Hard... e Bites on My Neck

/ Por: Cleber Facchi 15/02/2022

Mesmo que Nat Ćmiel tenha feito de Serotonin II (2019) o primeiro trabalho em carreira solo, difícil não pensar em Glitch Princess (2022, Bayonet Records) como um precioso exercício de reapresentação. Segundo e mais recente álbum de estúdio da cantora, compositora e produtora de Singapura sob o título de Yeule, o registro preserva a essência do material que o antecede, com suas ambientações inebriantes e texturas eletrônicas, porém, amplia de forma significativa tudo aquilo que a musicista residente em Londres tem produzido desde as primeiras músicas e experimentos concebidos dentro do próprio quarto.

Não por acaso, a cantora utiliza da música de abertura, My Name is Nat Ćmiel, como um delicado cartão de visita. “Meu nome é Nat Ćmiel, eu tenho 22 anos… Eu gosto de texturas bonitas no som. Eu gosto do jeito que algumas músicas me fazem sentir“, detalha em meio a ambientações etéreas, ruídos e sobreposições sutis que apontam a direção seguida durante toda a execução do trabalho. É como se a artista, acompanhada em momentos estratégicos pelo produtor Danny L Harle (Caroline Polachek, Carly Rae Jepsen), testasse os próprios limites dentro de estúdio, proposta que faz de cada composição uma verdadeira surpresa.

Sem necessariamente romper com o pop atmosférico que tem sido explorado desde o primeiro EP de inéditas, lançado há oito anos, Ćmiel faz de cada composição um exercício isolado, sempre curioso. São canções que partem da fragmentação das vozes e batidas, confessam sentimentos e tingem com incerteza a experiência do ouvinte. E isso fica bastante evidente em toda a série de composições apresentadas pela artista nos últimos meses. São músicas como Don’t Be So Hard on Your Own Beauty e Too Dead Inside, em que estreita a relação com nomes como Grimes e Hannah Diamond, porém, de forma totalmente inexata.

Perfeita representação desse caráter imprevisível da artista fica bastante evidente na derradeira The Things They Did For Me Out of Love. Contrariando o que se espera de qualquer exemplar recente da música pop, Yeule investe em uma composição com mais de quatro horas de duração. São incontáveis camadas de sintetizadores e vozes ocasionais que convidam o ouvinte a flutuar. A própria Electric, logo na abertura do disco, estabelece no exagerado uso do auto-tune um precioso componente criativo, proposta que naturalmente aponta para a obra de SOPHIE, no provocativo Oil of Every Pearl’s Un-Insides (2018).

Entretanto, na mesma medida em que Yeule se desafia criativamente, Glitch Princess garante ao público uma seleção de faixas marcadas pelo forte caráter acessível. Exemplo disso acontece em Bites on My Neck. Um dos momentos de maior vulnerabilidade da obra, a composição encanta não somente pela construção dos versos, sempre sensíveis, como pelo uso calculado das batidas e sintetizadores que continuam a ecoar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento do álbum. O mesmo resultado, porém, partindo de uma abordagem menos urgente, acaba se refletindo em Perfect Blue, música que cresce em meio ambientações granuladas e versos sempre confessionais. “Gostaria que você pudesse ver dentro do meu núcleo“, detalha.

Sobrevive justamente nessa inusitada combinação de ideias o estímulo para o fortalecimento da obra. Mesmo que muitos dos conceitos apresentados em Glitch Princess pareçam resgatados de outros registros produzidos pela cantora ao longo da última década, difícil não pensar no trabalho como um precioso ponto de equilíbrio criativo e permanente busca por novas possibilidades. São canções que transitam por entre estilos e tensionam a experiência do ouvinte, mas que em nenhum momento rompem com o forte caráter acessível e refinamento estético que tem sido explorado pela artista de Singapura desde Serotonin II.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.