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Crítica

Young Fathers

: "Heavy Heavy"

Ano: 2023

Selo: Ninja Tune

Gênero: R&B, Art Pop, Neo-Soul

Para quem gosta de: Sampha e TV On The Radio

Ouça: I Saw, Rice e Geronimo

7.3
7.3

Young Fathers: “Heavy Heavy”

Ano: 2023

Selo: Ninja Tune

Gênero: R&B, Art Pop, Neo-Soul

Para quem gosta de: Sampha e TV On The Radio

Ouça: I Saw, Rice e Geronimo

/ Por: Cleber Facchi 13/02/2023

Testar os limites de gêneros historicamente moldados pela indústria e romper com a lógica padronizada dos algoritmos. Esse tem sido o direcionamento adotado pelos integrantes do Young Fathers desde os primeiros registros autorais. Responsáveis por uma sequência de obras que se acumulam há mais de uma década, o grupo formado por Alloysious Massaquoi, Kayus e Bankole ‘G’ Hastings continua a jogar com as possibilidades no quarto e mais recente trabalho de estúdio da carreira, Heavy Heavy (2023, Ninja Tune), material que soa como uma combinação do que há de melhor e mais característico no som do trio escocês.

Sequência ao bem recebido Cocoa Sugar (2018), o álbum de dez faixas é uma obra que pouco avança quando próxima dos temas e estruturas incorporadas no trabalho anterior, porém, potencializa uma série de elementos que há tempos tem sido explorados pelo grupo de Edimburgo. São coros de vozes e batidas que transitam por entre estilos em um permanente cruzamento de informações. Instantes em que os membros do Youn Fathers rompem com o pop europeu e a música negra dos Estados Unidos para buscar inspiração em conceitos ritualísticos do continente africano, diferentes ritmos e formas pouco usuais.

Entregue ao público em julho do último ano, meses antes do disco ser oficialmente anunciado, Geronimo funciona como uma representação sutil de tudo aquilo que o trio busca desenvolver ao longo do álbum. Inaugurada em meio a ambientações econômicas, a composição aos poucos destaca o uso da percussão irregular, harmonias de vozes e pequenas sobreposições de elementos que evidenciam o minucioso processo de criação do Young Fathers. É como uma interpretação menos urgente de tudo aquilo que os membros da banda haviam testado nos discos anteriores, estímulo natural para o restante do trabalho.

Nada que prejudique a entrega de faixas marcadas pela aceleração dos elementos, como uma extensão do material revelado pela banda em Cocoa Sugar. Localizada próxima ao encerramento do disco, Holy Moly funciona como uma boa representação desse resultado. Do uso ruidoso dos sintetizadores, passando pela inserção das palmas e componentes percussivos, cada fragmento da canção parece pensado para atrair a atenção do ouvinte. E ela não é a única. A própria Drum, logo nos minutos iniciais do trabalho, destaca a fluidez das batidas e vozes, como um indicativo precioso da potência criativa e entrega do trio escocês.

Entretanto, sobrevive na combinação entre esses dois extremos, oscilando entre momentos de calmaria e caos, a base para algumas das principais composições do disco. É o caso da já conhecida I Saw. Enquanto a letra da canção soa como um delicioso convite à desordem (“Eu chacoalho sua casa / Eu chacoalho sua zona / Eu amo ouvir você gemer“), camadas instrumentais, batidas e vozes assumem diferentes formações durante toda a execução da faixa. A própria música de abertura, Rice, é outra que chama a atenção pela forma como o trio vai de um canto a outro sem necessariamente perder o controle criativo do registro.

Ainda assim, muitas das composições que surgem ao longo da obra soam muito mais como interlúdios e esboços conceituais do que componentes substanciais para o desenvolvimento do registro. E isso fica bastante evidente na sequência formada pelas abstratas Shot Me Down e Ululation. A mesma sensação se apodera de Tell Somebody, música que funciona como uma transição para o que se revela de forma ainda mais consistente na já citada Geronimo. São pequenas oscilações, ideias repetidas e momentos de maior instabilidade que não apenas restringem, como diminuem consideravelmente o impacto em relação ao trabalho. Um misto de avanço e sutil retrocesso em relação ao material apresentado em Cocoa Sugar.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.