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Crítica

Zé Manoel

: "Coral"

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: MPB

Para quem gosta de: Luedji Luna e Xênia França

Ouça: Iyá Mesan, Coral e Malaika

8.5
8.5

Zé Manoel: “Coral”

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: MPB

Para quem gosta de: Luedji Luna e Xênia França

Ouça: Iyá Mesan, Coral e Malaika

/ Por: Cleber Facchi 24/09/2024

Escolhida como música de abertura em Coral (2024, Independente), Golden, parceria com Gabriela Riley, é fundamental para estabelecer aquilo que Zé Manoel busca explorar no mais recente trabalho de estúdio da carreira. São pouco mais de cinco minutos em que harmonias de vozes se completam pela riqueza dos arranjos e produção impecável de Bruno Morais. Um espaço de celebração que vai da música brasileira ao soul em uma proposta que potencializa o que o compositor havia iniciado em Do Meu Coração Nu (2020).

Com o ouvinte ambientado a esse cenário marcado pelo capricho dos elementos, o músico pernambucano faz de cada composição um delicado exercício criativo. São canções que trilham percursos isolados, porém sempre orientadas pela musicalidade preta que atravessa a região Nordeste do país para desembocar no continente africano. Exemplo disso fica bastante evidente na força avassaladora de Iyá Mesan, colaboração com Alessandra Leão, que destaca a grandeza adotada pelo cantor até os minutos finais da obra, em Siriri.

Claro que essa potência na construção dos arranjos e emprego das vozes não interfere na entrega de faixas marcadas pelo reducionismo dos elementos. A própria música que concede título ao disco funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos tratam sobre o desejo de retorno, destacando a sensibilidade poética de Manoel, pinceladas instrumentais, ruídos e vozes assentam lentamente, como um contraponto sutil à grandiosidade explícita momentos antes, durante a execução de Menina Preta de Cocar.

Sobrevive justamente nessa abordagem contrastante a real beleza do material apresentado em Coral. São composições que vão de um canto a outro em um intervalo de poucos minutos, destacando a versatilidade e a riqueza de ideias que movem o trabalho de Manoel. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida na própria sequência de abertura. Enquanto Golden se projeta de forma grandiosa, Canção de Amor Para Johnny Alf segue o caminho oposto, encantando o ouvinte pela nítida economia dos elementos.

Partindo dessa abordagem equilibrada, mas que posiciona sempre o músico pernambucano em primeiro plano, Manoel aproveita para ampliar seus domínios e estreitar laços com diferentes parceiros criativos. Alguns são mais explícitos, como Luedji Luna, que vai do poema em Lubi Prates às vozes de Malaika, uma adaptação para o português da canção de mesmo nome eternizada pela sul-africana Miriam Makeba. Já outras, como Liniker, são mais discretas, assumindo a construção dos versos em Deságuo Para Emergir.

Uma vez observados como parte de uma única obra, todos esses componentes instrumentais e poéticos, diálogos com diferentes colaboradores e sobreposições estéticas fazem de Coral o melhor e mais complexo álbum já revelado pelo músico pernambucano. Ainda que algumas das composições sejam incapazes de causar a mesma sensação de impacto e pareçam ancoradas em estruturas anteriormente testadas por Manoel em outros trabalhos, vide o reducionismo excessivo de Deságuo Para Emergir, prevalece durante toda a execução do material a força dos sentimentos e capacidade do artista em elevar a própria criação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.