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Críticas

The Armed

: "Perfect Saviors"

Ano: 2023

Selo: Sargent House

Gênero: Rock, Pós-Hardcore

Para quem gosta de: Converge e KEN Mode

Ouça: Everything's Glitter e Sport Of Form

7.8
7.8

The Armed: “Perfect Saviors”

Ano: 2023

Selo: Sargent House

Gênero: Rock, Pós-Hardcore

Para quem gosta de: Converge e KEN Mode

Ouça: Everything's Glitter e Sport Of Form

/ Por: Cleber Facchi 31/08/2023

Mais de uma década depois de formado e o The Armed segue como um dos projetos mais interessantes e misteriosos da cena norte-americana. Enquanto parte dos integrantes têm suas identidades ocultas, o sempre mutável coletivo continua a investir na entrega de obras cada vez mais imprevisíveis e catárticas. É o caso do recém-lançado Perfect Saviors (2023, Sargent House), registro que segue de onde o grupo parou há dois anos, durante a apresentação do intenso Ultrapop (2021), porém, partindo de um claro senso de atualização que conduz de maneira incerta a experiência do ouvinte até os minutos finais do material.

Inaugurado pela suavidade melódica de Sport of Measure, o trabalho logo muda de direção e destaca o uso ruidoso das guitarras, batidas e sintetizadores sempre carregados de efeitos. É como se fosse impossível prever qualquer mínimo movimento da banda que, logo na composição seguinte, FKA World, contrasta a fluidez do metalcore com xilofones cintilantes e versos que parecem pensados para grudar na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição. “Por que você não pode me ouvir? / Eu estou disposto“, cresce a letra da canção que segue até a posterior Clone, música que impressiona pela bateria ensurdecedora.

Menos direta do que as composições que a antecedem, Modern Vanity desacelera momentaneamente, porém, destaca a potência do som produzido pelo grupo estadunidense. São guitarras e vozes berradas que arremessam o ouvinte de um canto a outro, como uma manifestação da angústia presentes nos versos. “Não estou perdido / Estou apenas preso / Sem dor / Sem planos / Sem sangue“, confessa. Esse mesmo lirismo atormentado volta a se repetir na canção seguinte, Everything’s Glitter. A diferença está na forma como a banda utiliza de uma abordagem ainda mais acessível, direcionamento reforçado em Burned Mind.

Das vozes em coro ao tratamento dado às guitarras e batidas, tudo parece pensado para capturar a atenção do ouvinte. É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais interessante em Sport of Form. Dividida em diferentes atos, a canção encolhe e cresce a todo instante, destacando a capacidade do grupo em transitar por entre estilos, porém, preservando a consistência do material. Pouco mais de dois minutos em que o coletivo mostra todo seu domínio criativo, culminando em um fechamento tão grandioso que praticamente engole a posterior Patient Mind, com suas batidas eletrônicas e curioso flerte com o pop.

Com a chegada de Vatican Under Construction, minutos à frente, o grupo segue de onde parou na canção anterior, continua a reforçar o uso de componentes sintéticos, porém, posiciona as guitarras em primeiro plano, resultando em uma faixa que pouco avança quando próxima do bloco inicial do disco. Nada que Liar 2 não dê conta de resolver. Tão acessível quanto deliciosamente torta, a canção vai de encontro ao mesmo território criativo de nomes como Queens Of The Stone Age, vide a combinação da suculenta linha de baixo com a bateria, mas que em nenhum momento parece corromper a identidade criativa da banda.

Passado esse momento de maior euforia, In Heaven encaminha o disco para seu fechamento, mas não antes de transportar o ouvinte para um novo território criativo. São vozes macias que se espalham em uma cama de emanações etéreas, sopros e arranjos acústicos, rompendo totalmente com o restante do material. Vem dessa abordagem sutil o estímulo para a derradeira Public Grieving. São pouco menos de cinco minutos em que o grupo parte de um direcionamento contido, mas que ganha forma, cresce e culmina em uma rica sobreposição de elementos que mais uma vez evidencia a potência criativa do The Armed em estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.