Disco: “‘Allelujah! Don’t Bend! Ascend!”, GY!BE

/ Por: Cleber Facchi 17/10/2012

Godspeed You! Black Emperor
Experimental/Post-Rock/Instrumental
http://brainwashed.com/godspeed/

Por: Cleber Facchi

Quando o Godspeed You! Black Emperor encerrou as atividades no começo de 2003, o pós-rock e a sonoridade que definia a carreira da banda ainda parecia voltado para um público bastante específico. Ouvintes interessados apenas nos experimentos, na busca por percursos instrumentais não óbvios e acabamentos totalmente distantes da música pop. Um completo oposto do que hoje define o cenário voltado ao mesmo tipo de música, ou a o próprio público, que parece acompanhar tal sonoridade e outras distintas sem se importar com os contrastes. Passados dez anos desde que o último registro da banda foi apresentado ao público, Yanqui U.X.O. (2002), em ‘Allelujah! Don’t Bend! Ascend! (2012, Constellation) o grupo canadense não apenas entrega um trabalho para se restabelecer no cenário alternativo, como precisa aprender a lidar com todas essas transformações.

Construído em cima de “apenas” quatro faixas, o álbum traz de volta as mesmas climatizações épicas e experimentais deixadas de lado no clássico Lift Your Skinny Fists Like Antennas to Heaven (2000), obra máxima da banda – até então. Com elementos que vão do Drone a ambiente music tradicional, o novo disco se solidifica inteiramente em uma frente de composições capazes de brincar com a instrumentação de forma inédita dentro da trajetória do grupo, proposta que não apenas deve alimentar os seguidores mais carentes do coletivo de Montreal, como deve apresentar a banda para toda uma nova geração de ouvintes – inclusive àqueles que se consideram velhos apreciadores da obra do GY!BE.

Apostando em uma sonoridade que se desvencilha a todo instante de uma proposta moderada, o novo disco é um trabalho que busca ser grande em toda sua extensão, não apenas na duração das músicas (faixas que ultrapassam sem esforço os 15 minutos), mas na multiplicidade de interferências sonoras que se concentram no interior de cada nova canção. Percorrendo uma diversidade incontestável de referências, sons, novas exaltações instrumentais e até pequenas nuances regionais (bem exploradas na faixa de abertura Mladic), ADBA é um disco que transporta o espectador para um campo de domínios inexatos, terrenos que nem mesmo o mais profundo conhecedor da obra do grupo canadense parece acostumado a visitar.

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Nada tímido quando observado em proximidade ao inicial F# A# (Infinity) (1998) ou do antecessor Yanqui U.X.O., com o presente álbum a banda estabelece a execução de um tratado que brinca com as construções épicas de forma a quase representar um delineamento comercial. Ainda que os experimentos estejam bem marcados no interior de cada uma das faixas do disco – principalmente na climática canção de encerramento, Strung Like Lights At Thee Printemps Erable –, há na maneira como as guitarras se apoderam do álbum uma visível transformação. É como se a banda fosse capaz de transformar as extensas Mladic e We Drift Like Worried Fire (maiores faixas do trabalho) em criações ambientais e atrativas na mesma medida, agradando tanto aos ouvidos mais experientes, como quem se encontre com a banda pela primeira vez.

Recheado do princípio ao fim pelos detalhes, o álbum revela no uso de instrumentos inusitados como vibrafones, marimbas, glockenspiel, dulcimer e tantos outros elementos curiosos um mecanismo para tingir com distinção cada mínima porção do álbum. Mais curioso do que o campo de experimentos e reformulações impressas em toda etapa do presente disco é a maneira como a banda parece retomar o exato caminho de onde parou há uma década, garantindo a existência de um trabalho que parece maior e mais significativo do que qualquer outro lançamento do gênero surgido no decorrer dos últimos anos.

Impressionante pela forma como a banda permanece tão (ou até mais) coesa quanto nos velhos lançamentos de estúdio, em ADBA diferente do disco que o precede (ou mesmo em proximidade a uma série de outros discos de bandas apoiadas nas mesmas experiências) é nítida a necessidade dos canadenses em manter e fortificar um senso de aproximação e concisão até a última faixa. Dentro dessa proposta, cada canção (ou ato) solidifica um aspecto específico do álbum, que mesmo livre de um conceito assumido ou proposta particular, finaliza de maneira a proporcionar uma obra fechada e um tratado de momentos bem específicos. Logo, fica claro que o Godspeed You! Black Emperor não apenas voltou, como tomou de volta para si o título de gigante do pós-rock

 

‘Allelujah! Don’t Bend! Ascend! (2012, Constellation)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Mogwai, Labirinto e Explosions in the Sky
Ouça: o disco todo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.