Disco: “An Awesome Wave”, Alt-J (∆)

/ Por: Cleber Facchi 01/10/2012

Alt-J (∆)
British/Indie/Experimental
http://altjband.com/

Por: Cleber Facchi

É curiosa a maneira como certas bandas são tratadas como símbolo de novidade e experimentação, quando na verdade estão longe desse resultado. Desde que teve o primeiro disco lançado há alguns meses o quarteto inglês Alt-J (o nome é uma brincadeira com uma sequência de teclas nos computadores da Apple) vem sendo apontado como responsável por uma das estreias mais interessante do ano, feito que o grupo justifica com um trabalho capaz de perverter os padrões da música britânica recente. Intitulado An Awesome Wave (2012, Infectious Music), o disco pode até se apresentar como um projeto de novidade e nítida distinção dentro do que há anos se prontifica como grande marca da música inglesa (e em alguns aspectos até mundial), entretanto, a carcaça “inventiva” que cerca o grupo esconde uma variedade de defeitos que a tornam tão comum quanto qualquer outro representante da música atual.

Mesmo que as projeções não lineares que alimentam o registro se orientem para a construção de um som nada plástico e embebido por conceitos peculiares, a maneira como o disco se revela traz uma série de artifícios vulgares, repetitivos e experimentais de forma arquitetada. Quando encontram as estranhezas da folktrônica o grupo chega muito próximo da superfície que define a consistente trajetória de bandas como The Books, tendo na forte aproximação com o math rock uma incorporação exata de tudo aquilo que os conterrâneos do Foals vêm desenvolvendo há alguns anos, principalmente dentro do maduro Total Life Forever (2010). A banda pode até buscar pelo invento, mas até aí, nada do que já não foi explorado anteriormente e de forma até mais satisfatória.

Em uma medida de visível proximidade, An Awesome Wave soa deveras próximo daquilo que o Django Django conseguiu com o primeiro disco: um trabalho que flerta com experimental, o art-rock e boas melodias, mas ainda assim está longe de alcançar um resultado verdadeiramente favorável ou inovador. Enquanto Tessellate brinca com krautrock que aflorou na década de 1970 de forma própria, Breezeblocks cai de vez no pós-punk que tingiu com tons de cinza a música do mesmo período, referenciais que se aproximam do que há mais de uma década define o rock inglês, mas nas mãos do quarteto se revela de forma maquiada por uma camada extra de ruídos, sintetizadores e anseios românticos não tradicionais. As ideias e as referências estão por todos os cantos do disco, mas falta direção e real entendimento de como aproveitá-las.

Ao mesmo tempo em que o grupo propõe a criação de um trabalho que se desvencilha do básico e das redundâncias típicas de outros artistas próximos, não há como negar a forte conexão (principalmente lírica) com o que uma variedade de bandas inglesas vêm desenvolvendo há tempos. Da canção de amor imersa em melancolia no interior de Matilda aos entrelaces com a música pop em Something Good, tudo aproxima o registro do que bandas como Bombay Bicycle Club, The Maccabees e tantos mais desenvolvem há anos – em alguns momentos de forma até piorada. Apenas os velhos clichês remodelados ou no presente caso, protegidos por uma camada superficial de experimentos sonolentos que fingem ser revolucionários.

Assim como no autointitulado debut do Django Django, os vocais são parte essencial do registro de estreia do Alt-J. Tanto Something Good quanto Dissolve Me, no meio do álbum, representam isso de forma atrativa e competente, tornando claro que aí reside um dos pontos de real destaque dentro da obra. Sobrepostas, as vozes parecem ocupar todos os cantos e lacunas diversas que se espalham pelo disco, revelando uma particularidade que não apenas merece, como deve ser mais bem aproveitada em um futuro projeto do grupo. A própria tentativa de transformar os vocais em um instrumento, como no decorrer de Fitzpleasure ou nos coros de Bloodflood (uma das melhores do álbum) evidenciam o mesmo aspecto, prova de que há beleza no trabalho do grupo, mas ela não é de fato aproveitada.

An Awesome Wave é um disco nitidamente temperado pela necessidade de fugir do óbvio, porém, tudo se apresenta de maneira tão confusa que em alguns pontos são questionáveis os elogios acumulados ao longo dos meses em relação ao incoerente registro. Pouco atrativo, o álbum pode até ser apresentado como um projeto de fato inovador ao público jovem, entretanto, esse tipo de impacto será funcional apenas para quem passou as últimas estações preso aos redundantes projetos de grupos como The Vaccines, The Macabees e tantos outros aclamados nomes do “panteão” britânico. Perto de gigantes como Dirty Projectors e Animal Collective o Alt-J (∆) soa como um grupo de crianças irritantes brincando com os ruídos sem saber ao certo como lidar com isso.

An Awesome Wave (2012, Infectious Music)

Nota: 5.0
Para quem gosta de: Bombay Bicycle Club, Foals e The Maccabees
Ouça: Bloodflood e Something Good

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.