Disco: “Apocalypse”, Thundercat

/ Por: Cleber Facchi 12/06/2013

Thundercat
Electronic/Funk/Soul
http://thundercattheamazing.tumblr.com/

Por: Fernanda Blammer

Thundercat

O passado é o principal instrumento para o trabalho de Stephen Bruner. Fascinado pelos sons e todas as referências arquitetadas na década de 1970 – principalmente o Soul e o Funk -, o baixista norte-americano apresentou em 2011 The Golden Age Of Apocalypse, manifestação assertiva do que toda essa relação nostálgico-musical poderia realizar. Álbum de estreia do Thundercat e parceria bem instruída com o californiano Steve Ellison (Flying Lotus), o trabalho encontra no mesmo universo uma espécie de continuação inevitável com o lançamento de Apocalypse (2013, Brainfeeder), segundo registro da parceria entre a dupla e um aprofundamento no retrospecto instrumental de Bruner.

De esforço sonoro cada vez mais próximo do comercial, o novo disco traz logo de cara um aprimoramento nas melodias, vozes e principalmente versos, elementos que ultrapassam a verve quase jazzística do disco anterior para lidar de forma comportada com o grande público. Com um espaço cada vez maior para os vocais de Bruner, Ellison assume um papel claro de artesão, fazendo com que os instrumentos e demais variações sonoras espalhadas pelo disco dancem confortavelmente pela voz do cantor, tudo isso sem perder os pequenos toques de experimento.

Ao assumir esse enquadramento temático, Apocalypse acaba se dividindo de forma involuntária em dois grupos bastante específicos de composições. O primeiro é naturalmente voltado ao planejamento comercial do disco, aprofundando em músicas como Heartbreaks + Setbacks e Special Stage o lado mais radiofônico do álbum. Dessa forma, os vocais de Bruner assumem de maneira bem planejada tanto um enquadramento melancólico (representado com beleza em Tron Song), como de plena relação com a dança, exercício que transforma Oh Sheit it’s X no melhor exemplar sonoro de todo o álbum e, possivelmente, da curta discografia do cantor.

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Já no segundo grupo de canções, o que cresce não é a presença de Bruner, mas os experimentos eletrônicos de Ellison. Encarnando de vez a aceleração imposta em Cosmogramma (2010), o produtor transforma a essência nostálgica do Thundercat na abertura para que um catálogo de batidas, sintetizadores e pequenos ensaios psicodélicos floresçam pelo disco. Faixa de abertura do álbum, Tenfold é apenas um princípio para aquilo que Flyinig Lotus aprimora com esforço. À medida que a obra se desenvolve, crescem faixas como The Life Aquatic e Seven, uma escada natural para o que explode na música de encerramento Lotus and the Jondy, um encontro excêntrico (e alucinado) entre o Jazz e o R&B.

Temperado por instantes de agitação comercial e momentos de pleno experimento, o disco usa da dicotomia sonora e das pequenas oposições temáticas como a engrenagem para impulsionar toda a execução da obra. É como se ao criar momentos de pura imprevisibilidade em músicas como Seven e Tenfold, a dupla fosse capaz de sustentar um percurso mais acessível logo em seguida, como se a cada invenção desconsertante, Apocalypse presenteasse o ouvinte com instantes de respiro e leveza. O exercício banha o álbum com dinamicidade, ampliando tanto os momentos de comoção (Tron Song), como os momentos do disco que parecem se aproximar das pistas (Heartbreaks + Setbacks).

Descomplicado e ainda assim tão curioso quanto o exercício firmado em The Golden Age Of Apocalypse, o segundo álbum do Thundercat parece em diversos momentos fugir do que seria uma continuação, sendo tratado de forma nítida como uma evolução quando próximo do projeto que o antecede. Tanto Stephen Bruner como Steve Ellison parecem trilhar o disco com primazia, o que transforma a presente obra em um trabalho a ser observado com verdadeira atenção dentro de todas as movimentações que caracterizam a música negra atual.

Thundercat

Apocalypse (2013, Brainfeeder)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Flying Lotus, The Gaslamp Killer e THEESatisfaction
Ouça: Oh Sheit it’s X, Tron Song e Heartbreaks + Setbacks

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.