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Críticas

Tinashe

: "Aquarius"

Ano: 2018

Selo: RCA

Gênero: R&B, Soul, Hip-Hop

Para quem gosta de: Cassie, Rihanna e Jhené Aiko

Ouça: How Many Times, Bet e 2 On

8.5
8.5

Disco: “Aquarius”, Tinashe

Ano: 2018

Selo: RCA

Gênero: R&B, Soul, Hip-Hop

Para quem gosta de: Cassie, Rihanna e Jhené Aiko

Ouça: How Many Times, Bet e 2 On

/ Por: Cleber Facchi 24/10/2014

“Inexperiência” é uma palavra que não se aplica ao trabalho de Tinashe. Mesmo que Aquarius (2014, RCA) seja vendido ao público como o primeiro disco da cantora, bastam os minutos iniciais da própria faixa-título para sentir a plenitude da obra. Álbum de estreia dentro de uma grande gravadora – a RCA -, o coeso arsenal de estúdio se divide entre o passado ainda recente da artista e um futuro em plena construção. Uma síntese declarada de cada faixa ou mixtape assinada individualmente na última meia década e, ao mesmo tempo, um princípio de renovação autoral.

Nascida no Zimbabwe, porém, criada em Los Angeles, Califórnia, Tinashe é uma figura ativa no meio artístico há bastante tempo. Atuando como modelo e atriz desde o começo da adolescência, em idos de 2000, a artista apaixonada por Michael Jackson e Christina Aguilera logo encontrou na música um refúgio natural. Em 2007, com o The Stunners, hoje extinto coletivo de Pop/R&B, a cantora deu os primeiros passos oficiais. Todavia, foi ao mergulhar em fase solo e investir em obras independentes que a relação com a música de fato amadureceu.

Somente em 2012 foram duas mixtapes, In Case We Die e Reverie, fragmentos do material explorado com o antigo grupo e um resumo do som que viria a ser aprimorado de forma atenta em Black Water (2013). Primeiro registro apreciado sob os ouvidos atentos da crítica, a obra chegou em boa hora. Com os holofotes mais uma vez apontados para o R&B, Tinashe não apenas foi abraçada pelo mesmo público de Jhené Aiko, Banks e outras cantoras novatas, como ainda seduziu de vez a RCA – parceira desde a mixtape Reverie -, conseguindo a autorização para o primeiro álbum de estúdio.

De fato uma surpresa, Aquarius explora de forma minuciosa a transposição do meio independente para um grande selo. Oposto de Banks, The Weekend e demais artistas que sofreram recentemente com o mesmo processo de adaptação, “forçados” a abraçar um som moldado para o grande público, Tinashe encontra no mesmo cenário uma soma ilimitada de possibilidades. Ruídos, melodias esquivas do pop tradicional, além da constante interferência de Cashmere Cat, DJ Mustard e outros nomes de peso do R&B/Hip-Hop “alternativo”; ainda imersa em um plano comercial, cercada de músicas “fáceis”, Tinashe consegue provocar.

Seja pela experiência conquistada no The Stunners, ou pelo esforço em crescer a cada novo registro autoral, Aquarius nasce como uma obra ocupada em essência pela maturidade de Tinashe. Mais do que uma voz aos comandos de produtores, é a cantora quem movimenta cada ato do registro. Como resultado dessa imposição, a sutileza evidente de How Many Times, Far Side Of The Moon e 2 On, composições tão íntimas das primeiras mixtapes da artista, quanto moldadas de forma acessível para o ouvinte médio. Em uma paisagem noturna, explícita nos breves interlúdios, fragmentos sentimentais como em Thug Cry e Pretend são encaixados de maneira precisa, seduzindo e atraindo o espectador para o interior da obra.

Peça central, Tinashe orienta cada convidado dissolvido pelo trabalho. Mais do que uma rima ou voz adicional, nomes como Future, A$AP Rocky e SchoolBoy Q são logo mergulhados no contexto agridoce do disco, ressaltando aspectos perturbadores da melancolia e sexualidade incorporada pela cantora. Mesmo o autoral Dev Hynes parece ceder aos encantos de Tinashe. Acostumado a injetar os próprios conceitos na obra de outros artistas – vide Solange e Sky Ferreira -, Hynes se transforma em instrumento na densa Bet, faixa instalada na abertura do Aquarius e uma espécie de aviso sobre o ambiente particular que será lentamente apresentado ao ouvinte.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.