Disco: “Arcadia”, Ramona Lisa

/ Por: Cleber Facchi 05/05/2014

Ramona Lisa
Synthpop/Alternative/Indie
http://www.theramonalisa.com/

Por: Cleber Facchi

Passado o processo de divulgação do maduro e ainda assim jovial Something (2012), segundo registro em estúdio do Chairlift, a cantora e produtora Caroline Polachek, uma das metades da dupla, viajou para Roma, Itália em um período curto de férias e natural busca por novas inspirações musicais. O resultado desse período de enclausuramento (criativo) está armazenado com delicadeza no interior de Arcadia (2014, Terrible), bucólica estreia solo da artista norte-americana e primeiro álbum assinado sob o título de Ramona Lisa, uma espécie de alter ego da musicista.

Desenvolvido de forma semi-artesanal, o trabalho foi gravado sem o auxílio de microfones externos, instrumentos ou mesmo prováveis captações em um estúdio amador. Trata-se de uma obra construída em totalidade a partir de um Laptop, condensando vozes e arranjos através de Softwares de áudio e estúdios eletrônicos atentos ao protocolo MIDIMusical Instrument Digital Interface. O resultado está na formação de uma obra caseira, exercício que amplia a sensação de isolamento do álbum, como uma passagem para um mundo mágico, neste caso, a Arcádia fictícia e mística que garante título ao disco.

Ainda que ecoe como um produto isolado, reflexo do recolhimento de Polachek, muito do que resume a atmosfera do álbum cresce em proximidade ao cenário musical expresso em Something. Basta voltar os ouvidos para Cool As A Fire, Turning e demais faixas “tímidas” do registro lançado em 2012 para perceber a matéria-prima de Ramona Lisa. A diferença está na sonoridade gerada pela cantora, afinal, enquanto o disco lançado em parceria com Patrick Wimberly encontra limpidez nas formas nostálgicas dos anos 1980, Arcadia brinca com as experiências caseiras do mesmo ponto de referência. Não chega a ser necessariamente Lo-Fi, mas ecoa como uma nuvem empoeirada de arranjos e essências eletrônicas.

Mais do que parecer uma extensão do universo proposto em Something, com o novo álbum Polacheck busca desenvolver um território específico, próprio de Ramona Lisa. Basta perceber como Backwards & Upwards e Izzit True What They Tell Me, algumas das faixas mais “comerciais” do disco involuntariamente tendem ao experimento. São pequenas emanações sintetizadas, batidas exploradas de forma rudimentar e uma evidente perversão do óbvio que conforta e instiga o público. Atos isolados, como os de Avenues e Wings of the Parapets, em que vozes se convertem em instrumentos, arrastando o ouvinte para um cenário tão acolhedor quanto provocativo.

De fluidez compacta, Arcadia se revela como uma obra de instantes. Cada canção do disco parece fluir em uma medida própria de tempo, o que reforça o caráter ambiental e brando que a faixa-título identifica logo nos primeiros minutos da obra. Todavia, a leveza que orquestra o álbum está longe de solucionar um disco arrastado, pelo contrário, Polachek cria pequenos argumentos para prender e hipnotizar o ouvinte. Basta observar como o pop se curva de forma curiosa no interior de músicas como Getaway Ride (Cha Cha Cha) e Dominic, canções que mesmo recheadas por versos e arranjos acessíveis, não ocultam ruídos e pequenas variações essencialmente herméticas.

Movido pelas confissões, o álbum usa do mesmo isolamento instrumental como uma espécie de alimento para os versos que definem o trabalho. São músicas que reforçam o afastamento de Polachek da realidade e a busca por um ambiente confortável, tão acolhedor quanto as vozes que circulam por toda a extensão do disco. Delimitado de forma particular do primeiro ao último instante, Arcadia pode até parecer a representação de um ambiente próprio e cercado por limites específicos, mas em nenhum momento barra a entrada de qualquer visitante.

 

Ramona Lisa

Arcadia (2014, Terrible)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Chairlift, Frankie Rose e Chromatics
Ouça: Backwards & Upwards, Dominic e Izzit True What They Tell Me

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.